StatCounter

View My Stats

01/03/08

A HIPÓTESE DEUS (1)

Mário Martins



“A opinião é um ter por verdadeiro, consciente de ser insuficiente, quer subjectiva quer objectivamente. Se o ter por verdadeiro é subjectivamente suficiente e, ao mesmo tempo, é considerado objectivamente insuficiente, chama-se fé. Enfim, o ter por verdadeiro que é suficiente, tanto subjectiva como objectivamente, chama-se saber. A suficiência subjectiva chama-se convicção (para mim), a suficiência objectiva chama-se certeza (para todos)”

Immanuel Kant



1. As reflexões que se seguem têm por único objecto a questão teórica da existência ou não existência de Deus. Tal significa que não têm em conta, neste preciso contexto, o fenómeno da fé religiosa nem, em geral, a história e o papel social das religiões. Por outro lado, a expressão Deus, neste âmbito, tem o estrito significado de criador, sem os restantes predicados atribuídos pelas grandes religiões.

2. Deus não é um ser, mas sim, antes, um sentimento, uma ideia, um conceito ou uma hipótese de um ser, mais ou menos incorpóreo e indefinido; ou seja, Deus é um produto da sensibilidade e da mente.

3. Esse sentimento ou essa ideia humana prevalecentes de que, necessariamente, existe um ser criador, enraízam-se na evidência de que a natureza é um dado que nos transcende, no espanto provocado pela grandeza, complexidade e beleza do cosmos, no mistério da existência (porque existe tudo o que existe, em vez de nada?), e na intuição de que o universo (ou a natureza) não se pode justificar por si próprio.

4. Essa intuição de que o universo não se pode justificar por si próprio, deriva das suas próprias características conhecidas:

· Tem uma idade à volta dos 13.700 milhões de anos;

· Tudo, nele, é finito (salvo, ao que julgo, as partículas elementares que constituem o seu “caldo”);

· Tudo nasce de tudo que lhe é anterior;

· Tudo tem uma causa;

· A inteligência humana é um produto da natureza;

· O processo natural pelo qual tudo existe assemelha-se a um programa.

5. Aqui chegados começam os problemas. Se o universo é, por definição, tudo o que existe ou toda a realidade, e teve um início, isso significa que nasceu do nada ou de fora da realidade. Se, por outro lado, nele tudo morre e tudo nasce de tudo que lhe é anterior e tudo tem uma causa, tal implica uma primeira causa fora do universo. E se, ainda, a inteligência humana é um produto da natureza, então ela própria, a natureza, é animada por inteligência. E pode haver programa sem programador?

6. O conceito de Deus criador sofreu uma crise dramática, em meados do século XIX, com o advento da teoria científica da origem e evolução das espécies, estabelecida por Charles Darwin. Desde então a ideia de um Deus criador directo das espécies, nomeadamente, da humana (o que significava uma intervenção divina recente à escala cósmica - há cerca de 2 milhões de anos), perdeu toda a consistência racional, dando lugar à ideia de um Deus criador do universo (ou seja, um acto divino primordial e longínquo - há 13.700 milhões de anos).

7. É certo que está por esclarecer cientificamente o processo pelo qual se originou a vida elementar na Terra há cerca de 3.900 milhões de anos. E não está, sequer, afastada a hipótese de ter sido originada pela queda de meteoritos “contaminados”, isto é, de ter tido uma origem extraterrestre. Mas digamos que, sob a forte influência da teoria da origem e evolução dos seres vivos, há um certo consenso de que uma dada combinação das coisas em determinadas condições, origina ou pode originar vida.

CONTINUA


Início

Sem comentários:

View My Stats