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01/03/08

CORRECÇÃO E TOLERÂNCIA

António Mesquita

 François-Marie Arouet, Voltaire (1694/1778)



Voltaire é um dos pais da ideia da tolerância. A Igreja e o fanatismo são o seu cavalo de batalha. "Écrasez l'Infâme!", o seu grito de guerra ( pouco tolerante, na verdade).
O que significa a tolerância quando somos iguais em direitos como numa democracia? Não, decerto, pensar que os outros têm razão ao pensarem como pensam, mas que têm uma razão para assim pensarem. Compreendemos que divirjam e podemos até explicar a divergência, mas ficamos na nossa.
Se não fôssemos tolerantes, lutaríamos contra o erro dos outros e tentaríamos convencê-los à força, se pudéssemos. O problema é que tudo fica mais confuso se acaso pensarmos não numa situação de igualdade, mas numa relação de forças, de desigualdade de direitos ou até entre regimes políticos ou religiões diferentes. Aí, no melhor dos casos, é a "guerra fria", e o mais natural é que a tolerância acabe no momento em que nos sintamos ameaçados ou que os nossos interesses sejam postos em causa.
Sempre houve pessoas belicosas e pessoas pacíficas. Podíamos dizer que as primeiras não são tolerantes e que as segundas o são. Mas seria perder a ideia que está por detrás do uso moderno dessa palavra.
A tolerância tem muito a ver com relativismo. Significa que se acreditamos numa coisa não temos o direito de tentar convencer os outros a favor da mesma crença, porque as suas próprias crenças são tão justificadas como as nossas.
Não admira que se tenha rapidamente chegado ao conceito abstruso de politicamente correcto; não temos o direito de lutar pelas nossas convicções, e até, mais do que isso, devemos evitar que qualquer manifestação da nossa maneira de pensar possa levar os outros a sentirem-se "diferentes". É uma bela máquina de uniformidade e de conformismo.
É possível que esta situação reflicta ainda que duma forma longínqua e distorcida uma certa crise da verdade nas ciências e a consonância que existe entre relatividade e relativismo.
Mas, por outro lado, essa crise talvez leve a uma separação clarificadora entre a ética e a religião.
Aquilo em que acreditamos é uma fonte de valor, independentemente da opinião dos outros e de não sermos capazes de provar a sua verdade universal. Por todas as razões, não devemos confundir o civismo e a boa educação com a tolerância.
Na sede do nosso juízo, não podemos deixar entrar a ideia de que todas as opiniões se valem e que, por isso, devemos pôr as nossas "debaixo do alqueire" para não ofender a susceptibilidade dos que pensam de outra maneira.
Voltaire atacava as práticas violentas e injustas da Igreja do seu tempo. Não podia ser tolerante, no sentido moderno, e de facto não era.

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