Do Relatório da Comissão Técnica Independente, de Março de 2018, sobre os grandes e fatais incêndios ocorridos em 2017:
A primeira conclusão, baseada nas informações diárias e horárias existentes desde 2002 (série de 15 anos), permite afirmar que há uma correlação muito forte entre o número de ignições e a excepcionalidade das condições meteorológicas. A análise permite indicar que o risco de novas ignições é maior aos fins-de-semana, durante a tarde e princípio da noite. (…) Perante as condições meteorológicas de Outubro poderia (deveria) ter-se antecipado o aumento do número de ignições e, por isso, poderia ter-se actuado, com medidas robustas de pré-posicionamento e de pré-supressão, de forma a prevenir o que era esperado.
A segunda conclusão abrange as causas que têm estado na origem das ocorrências. O padrão dos dias 14, 15 e 16 de Outubro (de 2017) não difere muito da informação sintetizada a partir da série histórica de 17 anos (2001 a 2017). As causas principais são as queimadas (33% nos dias de Outubro contra 31% no período de 17 anos), o incendiarismo (36% contra 33%) e os reacendimentos (24% contra 18%). No que respeita às queimadas, nos três dias de Outubro as duas principais razões dessa causa foram a limpeza do solo agrícola (37%) e a renovação das pastagens (31%). Admite-se que a proximidade anunciada de precipitação pode ter conduzido a um aumento de ocorrências ocasionadas pela limpeza do solo agrícola.
Os impactos no uso do solo foram igualmente analisados. Conclui-se que nas áreas florestais ardidas no ano de 2017, 49,6% estavam ocupadas por pinheiro-bravo, 38,5% por eucalipto, 7,4% por carvalhos, castanheiros e outras folhosas, 3,5% por pinheiro-manso e outras resinosas e, finalmente, 1% por sobreiros e azinheiras. As razões desta concentração em praticamente duas espécies (pinheiro-bravo e eucalipto representam quase 90% da área ardida em 2017) resultam do tipo de combustíveis e da sua estrutura (distribuição vertical de folhas, ramos e matos no sub-bosque) nessas formações florestais, pois estas mesmas duas espécies ocupam, no panorama nacional, cerca de 50% da área de ocupação florestal total.
A análise das áreas envolventes das 1.712 habitações e 768 infra-estruturas empresariais afectadas por estes incêndios confirma que foram estas duas espécies (pinheiro-bravo e eucalipto) que ocupam com maior frequência aquelas áreas. Contudo, sublinha-se a necessidade de não considerar apenas a área contígua ao edificado, mas também a sua envolvente mais distante.
As soluções preconizadas por esta análise apontam para a necessidade de uma gestão do combustível do sub-bosque nos povoamentos de pinheiro-bravo e de eucalipto, assim como a conveniência de aumentar a proporção de folhosas caducifólias nestas áreas de interface.
Nas críticas condições piro-meteorológicas do dia 15 de Outubro o nível de prontidão das actividades de pré-supressão e supressão é determinante. Começa por ser especialmente importante a dissuasão e controlo do uso do fogo e, em geral, a vigilância, nomeadamente onde a vegetação e topografia favoreçam o desenvolvimento de grandes incêndios. A rapidez é decisiva, da detecção à 1ª intervenção, e o despacho de meios de combate e o seu pré-posicionamento devem ser adequados à gravidade da situação, o que deve ser tratado à escala nacional e não se compadece com respostas locais e forçosamente descoordenadas.
A pergunta é inevitável: o que foi feito até agora?
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