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01/05/25

REFLEXÕES À SOLTA

Mário Martins

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“(já que) as reflexões são os acontecimentos da vida moral.”

Honoré de Balzac , “Ilusões perdidas”


Segundo a Cáritas, em Portugal há meio milhão de pessoas na situação de extrema pobreza, e a população sem abrigo continua a aumentar. A crueza desta realidade, objecto de cíclicas notícias e de misericordiosa caridade, parece, no entanto, ser estranha à política do costume. A pobreza tem futuro.

A atitude de quase toda a Oposição, de exigir mais e mais esclarecimentos sobre a “empresa de consultoria de gestão, orientação e assistência operacional a empresas ou organismos”, anteriormente criada pelo Primeiro-Ministro é, certamente, a que mais convém a Montenegro, porque relega para segundo plano o facto de, através da sua família mais chegada, não se ter desligado dela, pelo menos aquando da sua posse como chefe do governo. Que autonomia poderá ter o Primeiro-Ministro nas decisões do Governo relativas ou abrangentes aos clientes da sua empresa oportunamente transferida para a esfera familiar? Esta é a questão central à qual não é preciso nenhuma comissão parlamentar de inquérito para responder.

O programa e o modus operandi da actual administração americana colocam na ordem do dia a velha questão de saber se a política seguida é objectivamente determinada pelas condições existentes, ou se é resultado subjectivamente definido pela nova liderança. Se é certo, na crítica do democrata Bernie Sanders, que o partido azul se esqueceu da classe trabalhadora, parece, no entanto, claro que o programa radical e voluntarista que está a ser executado a todo o vapor, está muito para além de constituir uma resposta aos problemas. Um misto de carisma e narcisismo do líder, desprezo pela verdade factual, ideologia e propaganda, sobrepõe-se, de uma forma errática e perigosa, a roçar a autocracia, às condições objectivas.

Paradoxalmente, o namoro yankee com o urso russo poderá diminuir a turbulência actual das relações internacionais, ainda que à custa da soberania de nações mais fracas. E se em plena vigência da guerra fria, os americanos procuraram tirar partido do diferendo sino-soviético, cativando os chineses para enfraquecer o rival, agora tentam separar os russos do gigante económico chinês; tudo se passando entre as três superpotências nucleares, à semelhança do que acontece no futebol português, em que há um campeonato dos três grandes e outro dos pequenos. Nas palavras de Armando Marques Guedes, professor catedrático jubilado, especializado em Direito e Segurança, na entrevista ao canal Now de 2 de Abril passado, “O que as superpotências buscam são esferas de influência. O resto é cascalho...”

A corrente de opinião que defende a paz contra a guerra, é apelativa mas simplificadora. Perante as invasões napoleónica e nazi, o que fizeram os russos? E o que se esperava que fizessem os ucranianos face à invasão russa e ao ataque declarado à sua soberania? Que opção tomar, numa terra apelidada de santa, reivindicada por dois povos que, contra todas as resoluções, não querem partilhar, e perante o morticínio de Gaza que mesmo um ataque terrorista a civis não pode justificar? E se Portugal fosse invadido, o que deveria fazer?

Salvo no domínio científico, as sociedades humanas não aprendem com os erros, sejam eles os mais trágicos, repetindo-os, sob novas roupagens, ao longo das épocas.

A rematar, um problema filosófico que tem tanto de interessante como de intrincado. Na coluna semanal da Revista do Expresso, de 14 do passado mês de Março, Pedro Mexia (antes de lhe dar o “tranglomanglo”, descrito na Revista em 28 do mesmo mês) cita o filósofo holandês Bento de Espinosa (1632-1677): “Pedro, por exemplo, é algo de real; porém, a verdadeira ideia de Pedro é a essência objectiva de Pedro e, em si, algo de real e totalmente diverso do próprio Pedro. Sendo, portanto, a ideia de Pedro algo de real, com a sua essência peculiar, será também algo de inteligível, isto é, será objecto de outra ideia, a qual terá em si objectivamente tudo o que a ideia de Pedro tem formalmente e, por sua vez, a ideia, que é a ideia de Pedro, tem igualmente a sua essência que pode também ser objecto de outra ideia.” “Quanto às restantes coisas relacionadas com o pensamento, como o amor, a alegria, etc., não me detenho; pois, nem interessam ao nosso presente propósito, nem tão-pouco se podem conceber, a não ser que se perceba o entendimento.” Mexia, confessando que ficou “preso nesta gincana três quinze dias” (a teoria, em cascata, de Pedro), conclui: “E assim, se mal estava, pior fiquei.”  

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