Mário Martins
“Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha.”
“O Príncipe” - Nicolau Maquiavel
«O motivo pelo qual este livro ainda é lido nos nossos dias é porque se baseia na natureza humana, tal como Hamlet ou Macbeth, de Shakespeare.»
Jonathan Powell, antigo diplomata britânico
Para o filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico florentino do Renascimento, Nicolau Maquiavel, reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna pelo facto de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser (nota da badana do livro), “os fins justificam os meios", conhecida paráfrase do que escreveu na sua famosa obra “O Príncipe”.
Paráfrase que poderá ou não estar correcta já que para o escritor Jorge de Sena o pensamento de Maquiavel “é o contrário daquilo que tem sido pejorativamente acusado de ser”. De qualquer modo, a frase “maquiavélica” ganhou foros de cidadania e o seu significado é claro.
O mesmo significado é igualmente atribuído à frase "o sucesso valida o acto" (exitus acta probat), escrita pelo poeta romano Ovídio, que viveu na passagem da era AC para DC, escrita na sua obra Heroides (Cartas das Heroínas) (Wikipédia).
Em sentido oposto, a doutrina cristã (a doutrina, não a prática…), segundo o Catecismo da Igreja Católica, defende que "Não se pode justificar uma acção má com boa intenção. O fim não justifica os meios." (Wikipédia)
E já em pleno século XX o reputado escritor inglês de “O admirável mundo novo”, Aldous Huxley, refutou que os fins possam justificar os meios, porque os meios usados determinam a natureza do fim que é alcançado.
Refutação teórica que seria levada à prática por duas personalidades de magna grandeza que, infelizmente, não fizeram escola: Mahatma Gandhi, na Índia, e Nelson Mandela, na África do Sul.
Se no plano individual, segundo as melhores regras do Direito, a violência só pode ser exercida em legítima defesa e de modo proporcional, toda a história política humana, palco de toda a sorte de ambições e interesses contraditórios, onde abundam as paixões mais descontroladas, demonstra, salvo raríssimas excepções como as atrás citadas, que esperar uma mudança radical do comportamento humano em geral no sentido de os fins não justificarem os meios, é uma esperança vã e quiçá mesmo uma impossibilidade. As características dos ataques e guerras da actualidade aí estão, mais uma vez, para o ilustrar.
No século XIX, o general prussiano Carl von Clausewitz proferiria, no melhor estilo realpolitik, a célebre asserção de que “a guerra é uma mera continuação da política por outros meios" (sublinhado meu)
A relativa acalmia vivida nos anos do pós-2ª. guerra mundial só foi possível no quadro da divisão do mundo em dois blocos geo-políticos antagónicos, com botões nucleares à mão.
Desafortunadamente, “O Príncipe” de Maquiavel vai continuar a “vender-se” muito bem…
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