O Marquês de Sade na prisão
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"(...) quando foi preso sob a vigência de Robespierre, em Picpus, descreve nestes termos a sua estada: 'um paraíso terrestre; bela casa, soberbo jardim, sociedade escolhida, mulheres admiráveis, senão quando eis que o lugar das execuções é colocado positivamente sob as nossas janelas e o cemitério dos guilhotinados no centro do nosso jardim. Nós, meu caro amigo, retirámos 1800 em cinco dias, dos quais um terço da nossa desventurada casa."
"Sade, meu próximo" (Pierre Klossowski)
Estas cenas fazem-no ter saudades da Bastilha. Sade pode muito bem ter descrito nos seus romances um dos sistemas mais desesperados que alguma literatura já produziu, pois se serve dos instintos naturais para a destruição da própria vida. Mas diante dos sacrifícios exigidos pela deusa Razão, na versão ingénua do materialismo do século XVIII, tem de reconhecer que se podia ir muito mais longe no horror.
As fantasias assassinas do grande libertino encontram um eco surpreendente no "artificialismo" da Revolução, toda ela virada também contra a vida, tal como tinha sido antes, mesmo se se pensava atacar apenas um regime. Mas são ambas filhas do mesmo século, afinal.
Claro que as intenções dos jacobinos não eram simplesmente destrutivas: salvava-os o seu ideal humanitário, grande e vago, coisa que os distingue do famoso marquês, cujo ateísmo é, no fundo, uma provocação a Deus, para, paradoxalmente, obter dele uma resposta.
"O regime da liberdade, para Sade, não deveria ser - e não será de facto - nem pouco mais ou menos, a corrupção monárquica levada ao cúmulo." (ibidem)
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