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01/02/18

AS MONTANHAS

António Mesquita

(Monte Parnaso)



"Não podia pensar nos Gregos sem ver montanhas diante de mim e, bizarramente, essas montanhas pareciam-se muito com aquelas com que quotidianamente me deparava. Tinham o aspecto de mais ou menos afastadas, segundo as condições atmosféricas; regozijávamo-nos quando eram mais visíveis, eram faladas e cantadas e objecto dum verdadeiro culto."

"La Langue sauvée" (Elias Canetti)

Goethe gostava de contemplar a reprodução duma bela obra de arte para apagar a impressão dum encontro fastidioso, como os a que a sua profissão de conselheiro áulico constantemente o obrigava.

Porque o espírito em cada um, o seu eu mais íntimo, não são imunes à fealdade, à influência corrosiva do que se aproxima de nós ou nos cerca como um ambiente. Por isso são tão importantes as imagens e os símbolos que nos ajudam a atravessar os círculos da vida como se o próprio Virgílio nos conduzisse.

O jovem Canetti teve a sorte de não ter de sustentar o espírito da Grécia à força de concentração mental, porque tinha diante de si o espectáculo inspirador das montanhas da Suíça. A realidade dava, assim, lugar ao símbolo com toda a naturalidade.

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