António Mesquita
A Greek physician at work (490 BC)
A identificação da doença permite ao médico "ler" alguns sintomas e antecipar outros, interpretando, sempre no mesmo sentido, indícios que podem parecer não ter qualquer relação com o mal.
Esta "crítica" não é possível no caso duma doença ainda desconhecida, ou quando os sinais são demasiado ambíguos.
Antes da filosofia hegeliana ter engendrado a sua prole no domínio da teoria política, a crítica tinha de cingir-se aos aspectos pontuais e às lições do senso comum. Denunciava-se a injustiça em pessoas e actuações concretas, mas era inconcebível a ideia de que a sociedade pudesse ser injusta no seu todo, sistematicamente.
A filosofia alemã criou a crítica sistemática. Tal como no caso do médico que já sabe o nome da doença, tudo pode ser interpretado como sintoma e manifestação do sistema.
Infelizmente, a política deixou de poder recorrer à farmácia do século XIX. E os que continuam a diagnosticar o sistema já não têm os meios da cura.
A pior consequência disto é que se perde assim o sentido natural da justiça e só o que corresponde à doença sistemática é valorizado.
Sem comentários:
Enviar um comentário