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01/01/17

DESEMPREGO

Mário Faria

(Fio de prumo: a angústia do desemprego)


Há dias encontrei um ex-colega. Detetei, desde logo, algo estranho: ele que era um tipo bem-disposto e muito aprumado, apresentava-se soturno e desmazelado. Tem quarenta e poucos anos, era muito competente e disciplinado. A empresa fechou no Porto e foi despedido. Como um mal nunca vem só a esposa seguiu o mesmo rumo pouco tempo depois. O seu subsídio de desemprego tinha terminado e o da sua esposa andava lá perto. Falou-me, com raiva, da sua vida, sem trabalho, sem salário, sem dinheiro, sem perspectivas de o conseguir e com uma família para sustentar. Que o desemprego é uma tragédia social todos o dizem, a começar pelos economistas que, apesar disso, o desejam já que se trata de um efeito secundário de flexibilidade, que é “uma coisa boa” que permite reorganizar a força de trabalho. Mas que é uma tragédia pessoal e familiar poucos o sentem de facto. Notava-se nele um rictus de sofrimento moral evidente e comovedor. Para aquele homem, o seu desemprego, não resultou de culpa pessoal mas do encerramento de uma empresa que tinha servido sempre de forma exemplar. Tinha tido vários convites para mudar, mas estava na empresa desde os dezassete anos e dizia sempre que só mudaria por um salário milionário. O negócio tinha caído drasticamente desde 2012. O pouco que restava passou a ser gerido pela sede em Lisboa. Bateu à porta de muita gente pois era reconhecida a sua competência nos serviços que prestava. O mercado do emprego não o ouviu e virou-lhe as costas. Os problemas quotidianos e a falta de reconhecimento e solidariedade que sentiu intrometeram-se de forma vincada na sua auto-estima. Sente vergonha. Esconde-se e já não procura com vigor uma saída. Foge dos vizinhos, dos amigos e da família. O casamento tremeu mas o casal conseguiu superar a situação. Os filhos ajudaram a ultrapassar a crise. Impedido de trabalhar, descobre estranhamente, como sem o trabalho perdeu a sua razão de ser, a identidade e orgulho. Depois de ter contado a sua desdita, fez-se um breve silêncio que ultrapassei dizendo uma série de trivialidades e alguns conselhos despropositados, que ouviu e que sabia que não serviam para coisa nenhuma. Despediu-se; desejei-lhe um bom Natal. Porque é que nestas alturas raramente somos capazes de dizer as palavras certas? Por esta via e sem a dor dos que se sentem excluídos, desejo que todos os desempregados encontrem o caminho, o trabalho e o respeito que lhes é devido. E um bom ano para eles e para todos os homens e mulheres de boa vontade.



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