Mário Martins
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Diz-se que uma das razões por que a maioria (52%) dos cidadãos do Reino Unido que votaram (72%) a saída da União Europeia, 43 anos depois de terem entrado na Comunidade Económica Europeia, foi o medo da imigração. No entanto, os saldos migratórios (diferença entre os que entram e os que saem) oficiais indicam que, no conjunto dos últimos 10 anos, apenas 36% dos imigrantes eram originários da UE e que dos 64% que provieram de fora da UE 48% não eram da Commonwealth. Se nos fixarmos no ano de 2015 metade da migração para o Reino Unido teve origem na UE e a outra metade fora da UE (desta apenas 39% veio da Commonwealth). Numa palavra, pelo menos metade da migração para o Reino Unido é resultado exclusivo da sua política doméstica.
Entretanto, o anterior presidente da UE, Durão Barroso, atirou as culpas pela decisão de saída para o primeiro-ministro inglês, David Cameron, descartando, assim, a responsabilidade de líderes comunitários sem sentido europeu*, mas parece claro que quem comandou o processo político do Brexit (o qual, ironicamente, poderá pôr em causa a integridade do próprio Reino Unido) foi a extrema-direita britânica.
Se a União Europeia sobreviverá ao Brexit – afinal de contas diz-se que o Reino Unido estava dentro da UE com um pé fora e que agora está fora da UE com um pé dentro – não creio que aguente um eventual Frexit. A França é um membro fundador da então CEE, nos idos de 1957 e, malgré tout, um moderador do poderio alemão. Mas é para aí que aponta o aplauso caloroso de Madame Le Pen ao discurso de vitória, no Parlamento Europeu, de Mister Farage. Bem situada nas sondagens das eleições presidenciais da próxima Primavera, a líder da extrema-direita francesa não perderá a oportunidade de reclamar a saída da França da UE e a realização de um referendo.
Numa Europa economicamente decadente e politicamente à deriva, incomodada por uma religião islâmica viva que não distingue o político do religioso, assediada por vagas de emigrantes e de refugiados, e amedrontada pela ameaça terrorista, os ventos correm de feição para quem defende o ideário nacionalista, o regresso do controlo das fronteiras e músculo securitário.
*Um exemplo de como vai a UE é a forma leviana e quase provocatória como Bruxelas vem tratando a estafada questão das sanções a Portugal pelo desvio de décimas do défice público de 2015, expondo o país a uma crescente desconfiança dos mercados financeiros, em vez de flexibilizar metas sem alterar a trajectória. Por este andar, ou a União Europeia muda ou acabaremos a discutir um eventual Portuguexit…
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