Manuel Joaquim
Através do voto, os britânicos decidiram retirar-se da União Europeia, apesar de todas as pressões e ameaças de que foram vítimas. O Presidente dos Estados Unidos, os principais dirigentes da União Europeia e dos respectivos países intervieram activamente na campanha contra a saída, com a sua presença e com declarações chantagistas e instiladoras do ódio e do medo. As sondagens foram utilizadas para servirem resultados mais convenientes para o poder dominante.
Como o resultado não foi o esperado, é possível ouvir comentadores a dizerem que os resultados foram obtidos pela votação dos velhos e dos aldeões que são uns pobres ignorantes e que os mesmos vão sofrer consequências muito sérias com a decisão que tomaram. Estão quase a dizer que a votação não foi democrática e que, por isso, não deve valer. No dia seguinte à votação, arranjaram logo pessoas a dizerem na TV que não estavam esclarecidas quando votaram e que se fosse hoje votariam de forma diferente.
Sobre a situação social e laboral que hoje existe na Grã-Bretanha não falam.
As situações de pobreza a alastrar como peste, milhares de famílias onde só um membro tem trabalho, a maior parte das vezes precário, tendo como grandes vítimas sobretudo as crianças, em resultado do desmantelamento de sectores económicos importantes, são ignoradas.
Muitos dos dirigentes das principais estruturas sindicais estão institucionalizados com o poder capitalista e são amamentados por ele. Os sindicatos são orientados para não defenderem os trabalhadores, para não lutarem pelos seus direitos, para aceitarem a exploração, e para trabalharem para a divisão dos trabalhadores. Lá, na Grã-Bretanha, tal como cá, em Portugal. O actual Secretário Geral da UGT ouviu previamente o banqueiro Ricardo Salgado, seu patrão, para ocupar o lugar.
Mas é bom dizer, também, que muitos sindicatos defenderam e fizeram campanha pela saída da União Europeia, caminho que consideraram o mais conveniente para a defesa dos trabalhadores e da população em geral. Naturalmente o menos conveniente para a defesa dos interesses do grande capital.
A EU está numa profunda crise que alguns vaticinam que está a caminhar para o seu desmantelamento, que pode passar por fases. Alguns dos seus próprios dirigentes manifestam preocupações nesse sentido.
Em Portugal, há quem defenda que manter o país na moeda úníca, vai levá-lo ao desastre económico e social, e que não terá condições para cumprir os tratados existentes sob pena de acabar como mera colónia de outros.
Os sindicatos e as suas estruturas, quando representativos dos trabalhadores, e sabem interpretar e exprimir os interesses da sociedade em geral, têm um papel fundamental para com as suas intervenções, as suas lutas, contribuírem para a procura de caminhos que levam à construção de uma sociedade melhor.
Hoje, temos um governo do Partido Socialista, que tem o apoio do parlamentar do PCP, do BE, e dos Verdes, em resultado de acordos sobre determinadas matérias.
Mas o Governo do Partido Socialista recusa-se a alterar a legislação laboral, mesmo as situações mais gravosas para os trabalhadores.
Não há aumentos salariais há vários anos, as carreiras profissionais não são respeitadas, o trabalho precário é geral, não se respeitam os horários de trabalho, os despedimentos colectivos e o encerramento de estabelecimentos estão na ordem do dia. O objectivo de destruição das convenções colectivas de trabalho não foi abandonado. Segundo dados oficiais, um milhão de trabalhadores deixou de estar abrangido por contratos de trabalho.
Por isso, o papel dos sindicatos é fundamental nesta conjuntura política.
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