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02/07/16

O REFERENDO


Mário Martins




Os suiços são, talvez, o povo mais politicamente incorrecto. Apesar dos argumentos contra a prática da democracia directa – crescente complexidade dos assuntos, falta de informação, manipulação da opinião pública, desinteresse pela política… - os suiços não querem saber e, volta meia volta, convocam um referendo, seja por iniciativa dos partidos e órgãos institucionais, seja por iniciativa popular (mínimo de 100.000 assinaturas), como foi, agora, o caso. E o caso, agora, foi decidir (entre outras matérias) sobre a atribuição de um Rendimento Básico Incondicional de 2.260 euros mensais e de 588 euros mensais por cada criança. Apesar de não conhecer os detalhes da proposta e de reconhecer que a sua formulação desafia a busca de uma solução mais consensual que, na prática, assegure, para todos, um nível de vida minimamente digno, eu, se fosse suiço e não me abstivesse (como os 54% dos eleitores que não foram às urnas), teria votado contra (tal como fizeram 77% dos votantes), precisamente pelo carácter incondicional do rendimento, quer dizer, por a sua atribuição estar desligada da prestação de qualquer trabalho ou função social pelos beneficiários na idade activa.

De qualquer modo, se por democracia se entender, essencialmente, o exercício da vontade maioritária do povo, não há dúvida que não é só nos relógios ou nos canivetes (e também – hélas! – nos destinos atractivos de dinheiro suspeito ou evadido) que os suíços dão lições ao mundo. 

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