Mário Martins
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“Morrer é mais difícil do que parece”*
Paulo Varela Gomes
10 de Abril de 2015
O texto de Paulo Varela Gomes, escrito já em pleno agravamento do seu estado de saúde, é um extraordinário testemunho sobre a vida, o sofrimento e a morte; também sobre o amor e a dedicação, em que sua mulher, Patrícia, ocupa um lugar central. Mais do que pungente é um lúcido relato sobre a tragédia e, no fundo, a incompreensibilidade da condição humana. Tem-se a sensação, ao lê-lo, que sempre, de algum modo, se experimenta ao entrar num templo ou num cemitério: a sensação de corte com o ruído e a velocidade da vida quotidiana. Ele coloca tantas questões que é difícil escolher uma ponta. Por todo o texto perpassa o exercício da vontade nas circunstâncias mais adversas: na recusa de devastadores tratamentos químicos e radioterápicos para uma esperança de vida de poucos meses; na decisão de morrer em casa; na escolha da homeopatia à qual, nas suas palavras, “devo a qualidade dos mais de mil dias de vida que levo de vantagem sobre os médicos oncologistas”; na decisão de suicídio face a um posterior agravamento do estado de saúde; finalmente, na decisão de se apegar à vida. Mas, como em geral acontece, a este exercício da vontade não foram alheios factores condicionantes: o acaso do cheiro da hortelã-pimenta que, combinado com um raio de sol, esvaziou, no último momento, a vontade de premir o gatilho; e a fé religiosa, no caso a cristã, que justificou um fim de vida sofrido. Por mim, só posso dizer que nunca mais olharei da mesma maneira para a hortelã-pimenta que tenho no quintal…
*http://www.caritas.pt/site/lisboa/index.php/destaques-principais/620-morrer-e-mais-dificil-do-que-parece-o-texto-de-paulo-varela-gomes
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