Mário Faria
Ando rapidinho, normalmente e se as atrozes me deixarem. Fui ao cinema. Atravessei ruas a fugir dos carros, apesar das zebras, sprintei para o autocarro para não ter de esperar 30 minutos pelo próximo, comi apressadamente uma sandes porque a sessão começava às 13,15h: vi o filme acompanhado de um parceiro que na fila de trás atendeu uma série de chamadas que teve o bom senso de remarcar para o intervalo. O filme era bastante interessante, mas não fugia à moderna tendência de ter de ser rápido e cheio de acção: imagens e diálogos corriam cheios de pressa, como se todas decisões tivessem de ser para ontem. A urgência tomou conta do quotidiano e o cinema apanhou o comboio, desvalorizando a arte do silêncio e do recolhimento, capaz de ajudar a pensar sobre as coisas e questionar as ofertas do pronto-a-vestir. A sabedoria tem de se expressar a um ritmo intenso e a arte como se obriga a acompanhar essa pressa (e pressão), sob a pena de perder actualidade. E os que se servem das legendas, passam um martírio para entender o enredo e acompanhar a qualidade da realização e o trabalho dos actores. Os homens importantes andam depressa e os políticos não podem parecer vagarosos. Tal, retirar-lhes-ia credibilidade: são sinais exteriores de fragilidade na liderança e de incapacidade para a tomada de decisões.
O actual Presidente da República, segue a vertigem e não pára. O homem está em todas. Despreza a máxima de quem muito aparece, muito aborrece. A política de proximidade e o tom afectivo como se relaciona com o bom povo português, tem resultado e tornou-o imprescindível como mediador no confronto entre direita e esquerda ou entre Costa e Passos. Sabe que, de momento, é o último reduto para o regresso da direita ao poder. Foi a Berlim, com a corda na garganta, pedir perdão e misericórdia. O presidente é bipolar. Além disso, é hipocondríaco e faz da ocupação a terapia para combater a doença. Dorme poucas horas, depressa e não tem vida privada. A presidência da república é una espécie vacina. E como tem resultado:nunca andou tão feliz. E se não há casos, inventa factos. O povo agradece. Vai ficar na história, como o presidente-monarca. Pela minha parte, deixei de ter paciência para o aturar.
Cristas seguiu o guião: visitou igualmente a capital alemã para pedinchar o mesmo e garantiu que se Costa se portar bem, no futuro próximo, não haverá sanções. Recente no comando do CDS, não poupa gritos para se fazer ouvir. E tentar impor-se. O Opus Dei está bem representado e agradece os bons ofícios.
A política educativa em geral e os contratos de associação em particular, o aumento dos combustíveis, a economia, a quebra das exportações e Centeno, serão os principais alvos, a esta distância, da direita nas eleições autárquicas de 2017. O companheiro Assis já se posicionou para animar a constituição de uma ampla coligação de centro direita, para acabar com os bolcheviques, de vez. Mas se a esquerda deve estar preocupada com a Marcelo-dependência ao permitir e apoiar a intervenção do Presidente em áreas que o Governo deveria liderar, sem hesitações, a direita (ou parte dela) está a ver o filme e não está tranquila: teme que com um governo frágil (como o actual) Marcelo encontre o melhor cenário para reformular o papel de Presidente da República no sistema político português. Escreve João Miguel Tavares a este propósito: “Preparem-se: ou muito me engano, ou a presidencialização do regime já começou”.
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