O Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, no passado dia 18 de Março, foi pequeno para as pessoas que pretendiam assistir ao Concerto pela Paz, organizado pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e da Associação das Colectividades de Vila Nova de Gaia.
A entusiástica participação de todos, mas muito particularmente da juventude, em esmagadora maioria, através da Academia de Música de Vilar do Paraíso, da Associação Cultural e Musical de Avintes, do Conservatório de Música de Vila Nova de Gaia, da Escola De Música de Perosinho, do Ginasiano Escola de Dança, da Ilha Mágica, Orfeão da Madalena, de Daniel Cunha e Sérgio Garcia, demonstrou que as pessoas são sensíveis aos valores da Paz, da Solidariedade e da Fraternidade. Demonstrou também que a juventude, ao contrário do que alguns dizem, é responsável, tem grandes capacidades de trabalho e de organização, sensibilidades e valores, como demonstrou através da musica, da dança e do canto. Vila Nova de Gaia está recheada de jovens de grande talento , fruto de todo um trabalho que tem sido desenvolvido ao longo de anos por pessoas e instituições locais de grande prestigio nacional e internacional.
A Ilha Mágica, grupo constituído por quatro pessoas, divulgou poesia adequada ao tema da Paz , e leu um texto que me impressionou bastante. Presente na minha memória há muitos anos, mas oportuno nos tempos negros que os povos estão presentemente a viver, tempos de guerras que se alastram, envolvendo cada vez mais países.
O texto foi divulgado através do cinema em 1940, no início da 2ª guerra mundial, cujos contornos ainda eram mal conhecidos. É um grito extraordinariamente inteligente a favor da Paz, de Charles Chaplin, no seu filme “O Grande Ditador” que permito-me transcrever:
O DISCURSO FINAL DE “O GRANDE DITADOR”
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos - se possível - judeus, o gentio... negros... brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos cépticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo fora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há-de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá. Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos actos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sóis! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos. Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
de Charles Chaplin, no filme The Great Dictator (O Grande Ditador) 1940.
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