Mário Martins
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Como no início da obra-prima de Stravinsky, o reino vegetal desperta lentamente ao som melodioso do fagote, os campos tingem-se de verde, as andorinhas regressam aos seus beirais, tudo parece cumprir o ciclo natural, quando, de repente – acção! – bum!, bum!, bum!, bum!, bum!, bum!, bum!, bum! bum!, o som violento das cordas não consegue abafar o estrondo medonho das bombas, no instante anterior os mortos eram vivos com horários, tarefas, relações e sonhos, agora não têm que tratar dos estropiados num ambiente de fumo e pânico, nem que identificar, chorar e homenagear os que morreram (outros exultarão), nem que perseguir os autores vivos dos atentados (outros organizarão novos atentados), nem que levantar novas muralhas, nem que fingir que a vida continua como dantes. Insensíveis ao que se passa no topo do reino animal, ao sangue quente das vítimas que mancha o chão da cidade e aos rios de tinta dos analistas, as primeiras flores oferecem os seus cálices de néctar. Triste condição, a humana…
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