Mário Martins
https://www.google.pt/search?q=religi%C3%A3o&tbm |
Na carta anterior queixava-me da minha relativização, resultante da recente teoria dos universos paralelos, mas, para falar francamente, não sei o que será pior, se isso se a vossa antiquíssima crença em Deus(es) fora e acima de mim. Está fora de questão, pese aos ateístas, que eu, chamem-me Universo ou Natureza, tenha uma essência divina, no estrito mas incontornável sentido de me autojustificar. Mas que daí imaginem um mundo sobrenatural e criem Deus(es) à vossa imagem e semelhança, é um passo só explicável por a única inteligência sofisticada que conhecem ter forma humana e, principalmente, devo reconhecer, pelo facto de eu ser imperfeito apesar de divino. Compreendo que um mundo tão marcado pelo sofrimento não possa ser considerado perfeito. A(s) Religião(ões) é, assim, a vossa defesa da imperfeição do mundo. Ela possui a arte de transformar a imperfeição em perfeição, o mal em bem, o sofrimento em prova, a morte em passagem. Ela dá o alento necessário para suportar aquilo que a humanidade em geral acredita que são os insondáveis desígnios de Deus(es). Ela permite que a vossa imaginação crie mundos mitológicos perfeitos, intangíveis e sagrados, em oposição a mim, imperfeito, tangível e profano. A(s) Religião(ões) é uma reacção compreensível do vosso pensamento e imaginação à imperfeição real do mundo, que nenhuma outra disciplina está em condições de substituir. E no entanto, sem falsa modéstia, eu reúno em mim as qualidades de profano e de sagrado. Sou concreto e abstracto, tangível e intangível. Sou a fonte da vida e da inteligência. Sou a realidade objectiva e subjectiva, quero dizer, a realidade que vos é exterior e a realidade física e psicológica de observadores inteligentes do mundo. Sou o Todo. Assim falou o Universo.
Sem comentários:
Enviar um comentário