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01/06/15

QUESTÕES DE UMA EXPOSIÇÃO

Mário Martins
Iguana-marinha. Galápagos, Equador. 2004.
http://www.expogenesis.pt/


É admirável a exposição “Génesis”, a decorrer até Agosto no edifício da Cordoaria Nacional, em Lisboa. As fotografias de Sebastião Salgado são extraordinárias.

Em causa está a relação da humanidade com a natureza. Quase metade do planeta continuará intocada pela acção humana, mas teme-se o pior dessa acção.

Não é fácil falar da natureza e da nossa relação com ela. O dicionário de filosofia de Jacqueline Russ refere que é “um termo polissémico e, frequentemente, equívoco”, e o dicionário da língua portuguesa Houaiss apresenta nada menos do que 18 significados para o vocábulo.

Quando falamos da natureza que podemos mudar assumimos que estamos fora dela, que lhe somos estranhos, e que somos culpados se lhe fazemos mal, mas quando falamos da natureza enquanto universo, ou enquanto ordem universal, estamos dentro dela, somos, como as iguanas, produto dela, nessa medida não sendo responsáveis, em última análise, pelo bem ou mal que façamos. Nesta perspectiva, os defeitos da espécie humana passam a ser defeitos da natureza e o bem e o mal qualidades naturais. Esta é uma conclusão perigosa mas logicamente necessária.

Parafraseando Marx, a história da vida na Terra é a história da luta de espécies ou, dito de outro modo, a história da extinção de espécies*. Recém-“chegados” ao planeta, os seres humanos são, porém, uma espécie de novo tipo para a qual não há padrão nos cerca de 3.600 milhões de anos de vida que estão para trás. Em todo o caso a nossa história, recheada de violência e destruição ambiental, justifica todas as cautelas, apesar de o nosso livre-arbítrio ser mais aparente do que real.

*“É um fenómeno curioso que a morte das espécies na Terra seja, no sentido mais literal, um modo de vida. Ninguém sabe quantas espécies de organismos já existiram desde que a vida começou (…) Seja qual for o total, 99,99 por cento das espécies que alguma vez viveram na Terra já não estão entre nós (…) No que respeita aos organismos complexos, a duração média de vida de uma espécie é apenas de uns quatro milhões de anos (…). 

Bill Bryson, in Breve História de Quase Tudo. Quetzal Editores. 


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