Manuel Joaquim
HOMENAGEM A VIRGÍNIA DE MOURA NO 41º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL
Virgínia Moura e Lobão Vital |
A comissão organizadora na cidade do Porto das comemorações do 41º aniversário do 25 de Abril decidiu homenagear a resistência anti-fascista e uma das suas protagonistas, Virgínia de Moura, no ano do centenário do seu nascimento.
Na presença de alguns milhares de pessoas e antes do início do desfile, junto ao edifício da ex-Pide e do busto de Virgínia de Moura lá colocado em sua memória, Maria José Ribeiro, da URAP, União dos Resistentes Anti-fascistas Portugueses, falou de improviso sobre as lutas contra o fascismo e pela liberdade com palavras muito simples mas cheias de emoção, contendo mensagens de confiança para o prosseguimento de luta para ser alcançada uma sociedade mais justa e mais fraterna para que as pessoas sejam mais felizes.
Uma jovem, Helena Barbosa, do núcleo do Porto, do CPPC, Conselho Português para a Paz e Cooperação, leu o poema “Do Lado do Coração”, da autoria do poeta e resistente anti-fascista, Papiniano Carlos, escrito em homenagem a Lobão Vital, companheiro de toda a vida de Virgínia de Moura.
Seguidamente, em nome da URAP, e em homenagem a Virgínia de Moura, discursou João Fonseca. Ao ouvir a sua intervenção, descrevendo a vida daquela Mulher que eu conheci antes do 25 de Abril, num encontro e convívio de jovens, numa casa no cimo da Afurada, onde descreveu uma viagem que tinha acabado de efectuar à União Soviética, pensei que seria importante dá-la a conhecer, pois Virgínia de Moura foi um exemplo de coerência, de verticalidade, de luta e de não renúncia a valores e a princípios que, para alguns, estão fora de moda.
Com autorização do autor:
“ Amigos,
Estamos hoje aqui a comemorar os 41 anos da Revolução de Abril e a homenagear todos os Resistentes Anti-fascistas que já não estão entre nós, mas cuja vida e luta foram um precioso contributo para que a Revolução dos Cravos que acabou com o regime fascista tivesse lugar a 25 de Abril de 1974.
Entre os resistentes anti-fascistas que homenageamos, avulta o nome de Virgínia de Moura, também ela membro da URAP, União dos Resistentes Anti-fascistas Portugueses e que este ano várias organizações evocam o centenário do seu nascimento.
Razão pela qual se justifica um breve apontamento da vida de Virgínia de Moura em sua memória.
Virgínia de Moura nasceu em S. Martinho de Conde, em Guimarães, a 19 de Julho de 1915, mas sempre foi considerada uma mulher do Porto pois aqui viveu e lutou a maior parte da sua vida.
Aos dezasseis anos, no Liceu da Póvoa de Varzim já participava nas lutas e greves estudantis e aos 18, estudante universitária, pertenceu ao SVI (Socorro Vermelho Internacional) e filiou-se no PCP – Partido Comunista Português.
Virgínia Moura, frequentou a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, tendo sido uma das primeiras mulheres portuguesas a formar-se em engenharia civil.
De notar, porém, que nunca os seus projectos poderam ser assinados por si, pois eram todos reprovados pelas autoridades fascistas, dada a sua actividade política. Razão porque se viu obrigada a dar explicações de matemática e física, no seu pequeno escritório, na Praça do Município do Porto.
Em toda a sua vida foi uma incansável e determinada lutadora pela liberdade, a democracia e os direitos dos trabalhadores e do povo.
Com o companheiro da sua vida, o camarada Lobão Vital, que também hoje recordamos, Virgínia Moura esteve sempre presente nas pequenas e grandes batalhas políticas contra o fascismo e as ditaduras de Salazar e Franco.
Foi activamente solidária com os revolucionários espanhóis perseguidos pelo franquismo, durante a Guerra Civil de Espanha, e em Portugal pertenceu desde o início ao MUNAF, ao MUD, ao MND, assim como às candidaturas da oposição democrática de Norton de Matos, Rui Luís Gomes, Arlindo Vicente e Humberto Delgado. Virgínia de Moura esteve sempre presente nas lutas pela Paz, em defesa dos direitos e dignidade das Mulheres, etc..
Presa 16 vezes pela polícia política de Salazar, foi três vezes condenada nos tribunais plenários, foi torturada nas prisões fascistas. Agredida selvaticamente, algumas vezes, nas ruas, nunca desistiu ou recuou nas suas convicções e actividade política, continuando sempre ao lado do Povo e dos Trabalhadores nas suas lutas por melhores condições de vida, pelas liberdades e contra o fascismo.
Os Trabalhadores sempre a trataram com respeito e carinho principalmente as Mulheres da nossa cidade para quem Virgínia de Moura era a “Senhora Engenheira” e por quem, por exemplo, as vendedeiras do Bolhão atreveram-se a fazer uma greve, em Dezembro de 1949, e em manifestação exigiram publicamente a libertação de Virgínia de Moura, nessa altura presa por pertencer ao MND.
Virgínia de Moura desenvolveu também uma grande actividade intelectual, tendo colaborado em vários jornais e revistas do País, foi um dos fundadores da revista Sol Nascente, onde escreveu vários artigos sobre a situação da Mulher portuguesa, usando o pseudónimo de Maria Selma. Foi editora e conferencista com Maria Lamas, Teixeira de Pascoais, Maria Isabel Aboim Inglês e outros. Foi ela que em Abril de 1973 encerrou o III Congresso Republicano de Aveiro.
Virgínia de Moura teve uma actividade notável na Revolução de Abril, no desmantelamento do regime fascista, na consolidação do processo revolucionário, assim como no reforço da Aliança Povo-MFA. Recorde-se, por exemplo, que logo no dia 26 de Abril estava com o Povo à porta da Pide, exigindo a libertação dos presos políticos e a detenção dos pides, o que foi conseguido e anunciado daquela varanda, por ela e pelos militares do MFA.
Virgínia de Moura esteve sempre presente nos protestos e nas lutas contra os golpes contrarrevolucionários e contra as medidas anti-Abril impostas pelos governos reaccionários.
O seu percurso de vida e o seu prestígio são reconhecidos em boa parte do País, pelo Povo, pelos Trabalhadores e por algumas entidades públicas. Várias vezes condecorada. Foi distinguida pelo Presidente da República em 1985 com a Ordem da Liberdade. Nalgumas localidades do País, ruas e escolas têm o seu nome.
Virgínia de Moura faleceu a 19 de Abril de 1998 e o seu funeral constituiu uma grande manifestação de reconhecimento e apreço, pelo seu percurso de vida, pelo seu papel de lutadora, de democrata e anti-fascista.
Amigos,
Esta homenagem aos resistentes anti-fascistas e a evocação de Virgínia de Moura, cujas vidas e exemplos de luta hoje celebramos, não tem somente por objectivo recordar o passado, mas dá-lo a conhecer às novas gerações e alertá-las para a necessidade do prosseguimento das lutas, hoje noutra situação, é certo, mas sempre em defesa do Povo, dos direitos dos Trabalhadores, das liberdades e de Portugal: SIM! É NECESSÁRIO PROSSEGUIR A LUTA EM DEFESA DE ABRIL. É urgente unir todos os esforços e vontades no sentido de alterar o rumo desastroso para onde estão a conduzir o nosso País. É por todos conhecida e sentida a gravidade da situação em que, sobretudo nos últimos anos, as políticas de direita dos governos do PS; PSD e CDS, sozinhos ou coligados, com troikas ou sem troikas, empurraram o País para um desastre que põe em causa a situação de vida dos portugueses e do País, principalmente nos planos económico e social. É a vida cara e o aumento constante dos impostos; são os despedimentos e o desemprego; é o desmantelamento dos sistemas de saúde, de educação, da protecção das crianças e dos idosos, são as privatizações, o alastramento da miséria, as desigualdades no rendimento das populações, a corrupção sem limites, nem castigo, etc.
E, pasme-se é notícia recente que o PS, o PSD e o CDS querem criar uma nova censura prévia, aos órgãos de comunicação social, no que respeita à cobertura informativa dos próximos actos eleitorais.
Quer dizer que está em causa tudo o que foi conquistado com a revolução dos cravos, ameaçando já as liberdades e a soberania nacional, tal é a dependência dos portugueses e do país, das políticas e das orientações da EU, do grande capital nacional e internacional e do imperialismo dos EUA.
E toda esta dependência tem o apoio obsessivo das forças políticas, agora apelidadas como “partidos do arco do poder”. É uma vergonha!
A situação em que nos encontramos começa já a ter pouco ou nada a ver com as esperanças criadas ao povo português pelas quais lutou com o MFA, na revolução de Abril, de um país livre, independente e soberano, de Paz e bem-estar do povo português.
Estes objectivos estão consagrados na Constituição mas o PR não a cumpre nem obriga os governos a cumprir.
Amigos, não permitamos que destruam a revolução dos cravos. É pois urgente inverter esta situação e há alternativas e que os exemplos de vida e de luta de Virgínia de Moura e de muitos outros resistentes democratas e patriotas que nos antecederam e hoje homenageamos, continuem a ser considerados um contributo para o reforço da nossa luta, contra todos aqueles que pretendem acabar com a memória da revolução de Abril e destruir as suas conquistas.
NÃO O CONSEGUIRÃO
VIVA O 25 DE ABRIL
A LUTA CONTINUA
25 DE ABRIL SEMPRE! FASCISMO NUNCA MAIS!!!”
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Dentro das homenagens a Virgínia de Moura está a decorrer, desde de 18 de Abril até ao próximo dia 2 de Maio, na Biblioteca Almeida Garrett, no Palácio de Cristal, uma exposição evocativa do centenário do seu nascimento.
Porto, 30 de Abril de 2015
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