Aquando das eleições de Janeiro deste ano, os gregos tinham, como resultado do programa de ajuda financeira,europeia e internacional, a maior taxa geral de desemprego da União Europeia: 25,8% em Outubro de 2014; a segunda maior taxa de desemprego jovem: 50,6% (a primeira é a dos espanhóis: 52,0%); a riqueza nacional sempre a descer desde 2008; a dívida do estado, em relação com o PIB,sempre a subir desde o mesmo ano, para não falar da dívida privada (dos bancos, das empresas, das famílias); grandes cortes no seu rendimento; um cortejo de aflições sociais; e um sentimento de humilhação nacional.
Nas eleições de 2012, ano em que o Syriza se constituiu como partido de esquerda radical e obteve 16,8% dos votos, em Maio, e 26,9%, em Junho, a situação já era esta ou pior, mas a receita político-financeira externa não se alterou depois disso. Nas eleições europeias de Maio de 2014 o Syriza consolidou o seu patamar eleitoral, na casa dos 26%.
O que esperavam que a maioria dos gregos que agora votaram fizesse? Que votasse no partido obediente aos mentores políticos de um programa de ajuda desastroso? Em vez disso, numa situação de quem tem pouco a perder, votou, razoavelmente, no partido que prometia lutar contra esse programa.
Mesmo que os gregos, em geral, vivessem antes, como agora se diz, acima das suas possibilidades, ou que sejam os campeões europeus da corrupção, da fuga ao fisco, e da aldrabice das contas públicas, o que está em causa é o programa de ajuda europeu e internacional. Não é aceitável "matar-se o menino com a água do banho", foi o que, por outras palavras, disse, depois das eleições, o Presidente dos Estados Unidos. Por que não o disse antes?
A constituição do governo pelo Syriza assinala o facto histórico do regresso ao poder, na Europa, da esquerda anti-capitalista, por via eleitoral. Uma esquerda radical, mas não ligada à tradição comunista e defensora da liberdade.
Conseguirá novamente David impor-se a Golias? Apesar do poder das praças financeiras, da política dominante em Bruxelas, e da animosidade de governos obedientes, como o português, o novo governo grego tem a seu favor o voto claro e o orgulho ferido do seu povo, o perigo de rotura da Zona Euro e da União Europeia, e a geoestratégia. Se o governo grego bater contra a parede, talvez não lhe restealternativa à saída do Euro e, até, da União Europeia e à busca de ajuda financeira de outros estados. Nesse cenário, de custos desconhecidos para todos, o "berço da civilização ocidental" não ficará no mesmo sítio.
Nunca me senti tão grego…
PS: No momento em que escrevo fala-se na possibilidade de se alcançar um acordo grego/europeu na reunião agendada para 16 de Fevereiro. Mas talvez que o acordo ou o desacordo final demore mais algum tempo.
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