Numa visita esporádica ao cemitério de Paranhos, encontrei, sentado no interior de uma capela, o Chico Fininho que já não via há muitas semanas. Cumprimentamo-nos, dissemos as palavras de saudação da praxe e perguntei-lhe porque andava fugido. Respondeu-me, assim: O grupo da raspadinha dissolveu-se, deixei as viúvas que estão completamente maradas, só pensam em sexo, são mentirosas e ferozes alcoviteiras. Fugi para me salvar. Levo uma vida mais recatada e encontrei na pesca o meu hobby favorito: vou dar banho à minhoca sempre que posso, o tempo ajuda e a maré está de feição. Apanhei o jeito e comecei a tirar peixes com regularidade o que me incentiva, cada vez mais. Depois, encontrei neste cemitério a harmonia feita de silêncio e do suave murmúrio da brisa quando toca docemente nos ciprestes que por aqui moram. Esta calma, pacifica a alma e sossega o corpo. Para além disso, os habitantes que aqui residem são, provavelmente, os únicos que não nos podem fazer mal. Interrompi o devaneio a que de vez em quando se dedica e perguntei-lhe como ia o negócio. Respondeu-me: Passei à reforma e só intervenho em casos muito particulares que não especificou, como aliás sempre fez relativamente às suas actividades profissionais. Falámos do FCP e contou-me da sua desilusão depois da derrota com o SLB que o afastou (de vez) do Dragão, da enorme insatisfação que nutre relativamente ao trabalho do actual governo, das conversas da treta dos gregos e confidenciou-me muito penalizado que: Portugal do que precisa é de um Salazar. Resolvi aderir ao PDR, porque o Marinho e Pinto tem os tomates no sítio. E de amores como vais, perguntei-lhe. Estou num período de contemplação e impus a mim mesmo uma dieta rigorosal. Não acreditei no que disse e acho que, se a D. Mariazinha o quisesse de volta, iria continuar a rebolar às suas ordens, de forma atenciosa e competente, como sempre fez e gosta de dizer. Em despedida, disse-me de forma resoluta: Deixei de ser o Chico e o Fininho é para esquecer. Não admito mais esse tratamento. Chamo-me Francisco de Almeida e é assim que exijo ser tratado, de hora em diante. OK, disse-lhe. O Chico Fininho é muito engraçado e é um prazer ouvi-lo.
Cumprida a minha visita, dirigi-me para a saída e junto de uma campa encontrei a D. Isabel, que acompanhou a minha Mãe que, com uma idade muito avançada e numa fase de particular fragilidade, corroída pela idade e sempre atormentada pela doença, muito ajudou em momentos de dor e medo. Muita atenciosa e cuidadosa, sempre teve a lucidez e o bom senso para gerir a relação com a doente e que nem sempre foi fácil. Nos piores dias, transparecia das suas decisões uma sabedoria que impunha com uma serenidade invulgar. Contou-me que o marido tinha morrido depois de doença prolongada, a filha tinha emigrado e fixado residência em Londres, a sua cadela tinha morrido na semana anterior de velhice, estava desempregada e recebia uma reforma miserável. Sentia-se só, sem utilidade e reconhecimento. Deixou cair algumas lágrimas de desalento. Não soube o que lhe dizer, a não ser algumas frases feitas que nada dizem, como se tivesse um bloqueio que me travou e impediu de ser mais solidário. Despedi-me com uma frase de esperança que apanhei a jeito
Chegado a casa, ainda fui a tempo de assistir à audição de Zeinal Bava sobre o inquérito parlamentar ao BES. Fez jus às inúmeras medalhas e condecorações que tem recebido pelos relevantes serviços prestados à Pátria. A bloquista Mariana Mortágua questionou o ex-CEO da PT sobre o investimento na Rioforte e das respostas concluiu provocadoramente: É um bocadinho amadorismo para quem ganhou tantos prémios de melhor CEO do ano, Europa e arredores, não é?". Imperturbável Zeinal respondeu: “Lamento que diga que não fui esclarecedor, tenho feito tudo para ser o mais esclarecedor possível. Não consigo é responder a coisas que eu não sei e em relação às quais não tenho responsabilidade. Este homem faz parte dos recebedores como comprovam as brutais indemnizações que recebeu e do reconhecimento que continua a merecer dos grupos de interesse que conhecem todos os segredos, a bem do negócio. Faz parte de uma elite restrita que nunca vive acima das suas possibilidades, pois o que têm é vencido em função do mérito e do valor que o mercado lhes reconhece. E assim vai Portugal .
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