António Mesquita
Joseph-Ignace Guillotin
Senhores, com a minha máquina, farei saltar a cabeça num abrir e fechar de olhos sem sofrimento... o mecanismo cai como um raio, a cabeça voa, o sangue jorra, o homem deixa de existir!" No máximo, o condenado terá, "na nuca, uma sensação de hálito fresco."
(Guillotin, 1789 , à Assembleia Nacional)
O fim mais ou menos suave, indolor, que a maioria de nós deseja na sua própria morte, era o principal argumento dos inventores da guilhotina. A sensação de 'hálito fresco' na nuca correspondia à inexorabilidade da sentença, mas, sobretudo à 'humanidade' com que era aplicada. Sem ódio, nem emoção que fizesse tremer a mão do carrasco. O condenado, simplesmente, deixava de existir, como se caísse no alçapão de 'Julieta dos Espíritos'.
A medida era tão conforme à mentalidade de uma nação que foi o berço do racionalismo moderno, com a filosofia cartesiana, e que, durante a sua Revolução, ergueu a Razão ao estatuto de divindade, que se continuou a guilhotinar até 1975.
'Meter a guilhotina no saco' foi o que se devia fazer na emergência de um mundo cada vez mais pequeno (ou global). Mas o aspecto 'filantrópico' do instrumento de passagem 'administrativa' para a 'outra vida', tem um grande futuro. Kafka imaginou até a máquina de punir 'automática': a falta, ou o crime eram imediatamente punidos com a dor exactamente apropriada, segundo a lei. A 'justiça' dependeria de uma precisão absoluta.
O que é que a razão poderia ter a objectar a tal eficácia?
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