Mário Faria
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No dia seguinte á minha chegada, tive de cumprir um serviço que não me agrada: ir à peixaria levantar uma encomenda. A distância é curta e permitiu-me apurar como tinha ficado o Jardim de Arca de Água depois do brutal assalto a que foi submetido durante as festas de Nossa Senhora da Saúde. Estava limpo e sereno. Demorei alguns minutos para ouvir o silêncio e depois dei corda aos pés para tratar de realizar a tarefa para que tinha sido mandatado. Na loja, encontrei algum peixe, moscas e bastantes donas de casa que falaram bem mais do que compraram. A conversa foi animada e não escapei ao fascínio da história. O Ricardo andava caidinho pela Chinesa que tinha por companheiro o André que vivia com D. Luisinha uma quarentona em muito boa forma, esteticista, que lhe alugou um quarto e andava por ele embeiçada, apesar do desinteresse aparente do jovem. Notava-se uma ligeira tendência naquela informal assembleia popular para aceitar que a sucessão dos casos violentos que ocorreram nessa madrugada, em que a loja da Chinesa foi assaltada e arrasada e o seu companheiro brutalmente agredido quando regressava a casa, em momentos e sítios diferentes, teria sido planeado por D. Luisinha que o Ricardo executou e que completou com a tareia no André, exorbitando as suas competências porque não era curial que a mandante desse uma ordem para bater no seu menino querido daquela forma tão brutal, segundo o diagnóstico da maioria das senhoras. A dona da peixaria que comandou a sessão, muito vagarosamente, cuidou de me servir, finalmente. Embora o tema fosse delicioso, estava um pouco farto daquelas armas de guerra que disparavam rajadas de palavras tão intensas e audíveis que fizeram parar alguns transeuntes mais curiosos e juntar uns poucos que aproveitaram a paragem do autocarro para seguir a tramoia. Logo que atendido e antes de me pirar, ainda pude ouvir que a polícia já tinha tomado conta da ocorrência. Regressei a casa com o peixe, os ouvidos a arder, meio surdo, curioso e com a certeza que as queixas seriam arquivadas por falta de provas o que não impediria que o tema fosse acompanhado e discutido de forma exemplar pelo ramo civil do CSI do burgo. Não poderia ter retomado a rotina diária da melhor forma na minha aldeia de Paranhos desta mui nobre e sempre leal cidade do Porto.
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