“Sei que, filosoficamente, um assassino não tem culpa, mas não gostaria de tomar chá com ele.”
Albert Einstein
Quando tropecei nesta frase do célebre cientista percebi que, apesar do tom coloquial, ela encerrava questões filosóficas essenciais. Desde logo a questão da compreensão. Einstein não diz que um assassino não tem culpa, mas sim que, filosoficamente, não tem culpa. Isso quer dizer que pelo critério do saber mais profundo que, etimologicamente, o termo filosofia significa, um assassino não tem culpa. Então por que, por este critério, um assassino não tem culpa? Porque, respondo eu, os seres humanos, na medida em que são filhos do processo natural de existência, não são responsáveis pela sua natureza. Logo não podem ser os autores, mas apenas agentes do bem e do mal no mundo. E não de todo o bem e de todo o mal. Um pôr do sol ou um cancro que faz sofrer e morrer uma criança ocorrem sem intervenção humana. É certo que as religiões em geral e a mitologia judaico-cristã em particular, afirmam o contrário, quer dizer, que o mundo apenas conheceria o bem, não fosse o pecado original dos primeiros humanos. Convirá, no entanto, contextualizar. O papel da religião não é compreender mas o de nos consolar perante as misteriosas condições da existência. E para garantir a sua outra função de força moralizadora, compreende-se que coloque o Divino ou a Natureza a salvo da responsabilidade pelo mal do mundo. Outra questão filosófica perturbadora decorrente da afirmação de Einstein, é a da eventual impossibilidade de aplicação política da verdade filosófica. Filosoficamente, se um assassino não tem culpa, não deve ser punido, mas em sociedade, quer dizer, politicamente, não passa pela cabeça de ninguém que não seja castigado. Daí a justeza da conhecida afirmação de Bismarck de que a política é a arte do possível.
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