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01/09/14

A PAIXÃO DE MANDAR

António Mesquita

" A cidade onde aqueles que devem mandar estão menos desejosos de mandar é melhor e mais pacífica, e sucede o contrário com aquela onde esses têm a disposição contrária.

"A República" (Platão)

Isto é verdade, apesar de alguns (nos quais me incluo) defenderem a necessidade de homens ambiciosos para pôrem a sua energia ao serviço do Estado e da colectividade, sem se darem conta, as mais das vezes, que desempenham o papel de instrumentos do que à falta de melhor poderíamos chamar de Providência. Esta palavra é preferível à palavra História, porque não se corre o risco de pressupor que tem leis e de teorizar sobre elas.

O mesmo se passa com as outras paixões, as quais, segundo Descartes e Spinoza, podem sempre ser conduzidas para um fim útil. Por isso, homens relutantes ou equânimes nunca iniciariam, por exemplo, um caso de amor. O prazer associado a essa paixão tem 'garantido' a sobrevivência da espécie, mas à medida que aprofundamos a análise dos nossos 'raptos amorosos', e lhes encontramos substitutos mais controláveis e conversíveis em 'bitcoins', menos a 'astúcia' da Providência tem hipóteses.

Já que alguns têm, pois, de mandar que o façam de bom-grado, embora sob controlo. É sempre melhor esperar o que é mais natural que aconteça do que confiar nas excepções. A tristeza é também uma paixão, mas anémica. E quem faria uma coisa contra a sua disposição natural sem alguma tristeza? Talvez por isso a direcção do Estado fosse, antigamente, confiada aos anciões. A reviravolta dos tempos modernos foi de tal ordem que, hoje, um conselho de anciões estaria talvez ainda mais dependente da tecnocracia do que os governos que conhecemos.

Por isso a afirmação platónica só é verdadeira se nos referirmos ao passado (distante).

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