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01/02/13

O TRIPÉ

António Mesquita


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"O executivo é monárquico necessariamente. Na acção é preciso sempre que um homem dirija [...] O legislativo é oligárquico necessariamente, porque para regular qualquer organização, são precisos sábios, juristas ou engenheiros, que trabalham em pequenos grupos na sua especialidade [...] Onde então está a democracia, senão neste terceiro poder que eu chamo de Controlador? Não é outra coisa que o poder de depor os Reis e os Especialistas no minuto, se eles não conduzirem os negócios segundo o interesse do grande número."

(Alain)



O poder do 'povo' não é o de executar, nem o de legislar, naturalmente. Tampouco é o judicial que compete aos tribunais. É o de apear os maus governantes, não 'no minuto', infelizmente, nem segundo a sua vontade, mas segundo as regras que os 'especialistas' ditaram e que os seus representantes aprovaram. A democracia directa está fora de questão porque redunda sempre em tirania. As formas importam e podem ser mudadas.

Para que o 'controlo' de que fala o filósofo tivesse alguma eficácia seria precisa a 'mobilização' permanente dos cidadãos que não consentiriam que o governo "pusesse o pé em ramo verde."

A suprema sofisticação é levar o povo a crer que é ele quem manda. O povo só é 'quem mais ordena', por um momento, quando as formas se rompem e os governos ficam expostos à falta de representatividade. Para que as coisas funcionem, é preciso que a ordem (a começar pela da economia) se restabeleça e o 'rei' deixe de parecer nu. E então adeus democracia. Foi sempre essa a lição da história, desde que há um Estado. Questão de complexidade tanto como de força.

O estádio actual é o da atomização do poder popular que tem a sua escapatória nos grandes espectáculos de massa e a sua 'consagração' nas urnas de voto. Mas a necessidade de 'especialistas', sobretudo nas ciências ocultas da economia e o fim do 'espaço público', por falta de 'quorum', remete a esperança de qualquer controlo para o domínio da piedade.

Não há poder inteligente que não 'dê a volta' às veleidades de controlo. O que nos dá alguma folga é que nem sempre os governos primam pela inteligência.

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