Manuel Joaquim
Internato de S. João |
A Associação Protectora do Internato de S. João do Porto comemorou o seu 120º aniversário, no passado dia 17 de Novembro, registando as partes principais da sua história, num belíssimo livro, muito cuidado, que teve a prestimosa colaboração do escultor José Rodrigues, e cuja coordenação, concepção, pesquisa documental e texto pertenceu a Dra. Maria José Moutinho Santos, professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto/Departamento de História, investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória.
A Nota Prévia ao livro “Memórias – Internato de S. João do Porto” do Provedor da Instituição, Carlos da Silva Teixeira Mourão é um texto de recordações da sua infância, marcadas, certamente, por o que significava a Calçada do Gólgota por onde passava, hoje, também presente, por ser o local da residência de uma das grandes escritoras, nascida em Vila Meã.
A Associação nasceu nos finais do século XIX, como tantas outras nascidas naquela época, e que ainda perduram na região do Porto. “ Ao invés do que nesse tempo já distante era regra, em que a caridade descia a rua vinda dos palácios e conventos, o Internato de S. João, nasceu da angústia social e da vontade firme de alguns homens que acreditavam na solidariedade como dever, sem vestir o hábito franciscano, mas tendo em vista a construção da nova sociedade.
Vale a pena por isso recordar, ainda que ao leve, o que era o Porto em princípios do século XIX, a fervilhar de multidões fugidas à miséria dos campos, em busca de trabalho na cidade sem habitação e saneamento que Ricardo Jorge tão corajosamente denunciou. Nesse tempo, as taxas de mortalidade infantil eram trágicas e verdadeiramente assustadoras.”
O livro utiliza a documentação da própria Associação e fotografias de autoria de homens da época, hoje consagrados da arte da fotografia e do início do cinema: Emílio Biel, Fotografia Universal e Aurélio da Paz dos Reis, que foi sócio fundador.
Nas fotografias publicadas no livro encontrei pessoas conhecidas que passaram por lá. Umas, pelos órgãos sociais, outras, como educandos. Entre elas encontrei um colega e Amigo, dos tempos da Mutual, que, nos anos sessenta, era eu ainda muito jovem, me falou do Internato de S. João e me deu a conhecer que tinha sido lá criado e educado. Passava uns bilhetinhos para angariar fundos para a instituição que estava a atravessar dificuldades. Chegou a quadro superior da Companhia.
Tive, então, curiosidade em conhecer as instalações do Internato e passei pela Rua da Alegria para as observar. Há poucos anos voltei lá, mas, dessa vez, pedi autorização para as visitar. Fiquei surpreendido pela grandeza do espaço envelhecido. Manifestei isso a alguém ligado à instituição. Estavam a trabalhar para restaurar todo o edifício e melhorar as condições de alojamento.
O livro revela fotografias do presente que me deixaram muito contente. Das novas instalações e dos actuais dirigentes. Alguns, antigos educandos, desempenham ou desempenharam funções importantes na vida profissional e na sociedade.
A Nota Prévia termina com estas palavras “As nossas metas futuras determinam um encontro com aquilo que Goethe preconiza: “a coisa mais importante neste mundo, não é onde nos encontramos mas em que direcção caminhamos”. Neste caminho tranquilo, mas decidido, carregados de esperança, contamos com o apoio e amizade de quantos entendem que as crianças são o Futuro da Humanidade. É, nelas, por isso, que vamos continuar a investir, haja o que houver, custo o que custar.”
Sem comentários:
Enviar um comentário