Mário Martins
Meca (Wikipédia) |
Nos textos anteriores
abordamos os aspectos doutrinários principais que, de diferentes e demarcados
modos, globalmente caracterizam e distinguem, em termos religiosos, a chamada
civilização judaico-cristã. Agora, com o presente texto, entramos,
respeitosamente descalços, noutro mundo civilizacional.
“Atesto que não há
outro deus senão Deus e atesto que Muhammad (Maomé) é enviado de Deus” *
A adesão ao Islão reduz-se
a esta profissão de fé (…) e o monoteísmo é, sem dúvida, a palavra fundamental
do discurso do Islão sobre si mesmo *
Não existe povo a que
Deus não tenha enviado um mensageiro, afirma o Alcorão (…) Entre esses
mensageiros, apenas alguns podiam e deviam ser nomeados no Alcorão: são em
número de vinte e cinco, nomeadamente os fundadores das (outras) duas religiões
monoteístas, Moisés e Jesus, assim como alguns outros profetas do Antigo e do
Novo Testamento. Diante deles, alguns outros nomes citados no Alcorão são nomes
de profetas enviados especificamente aos Árabes, e que não encontramos
mencionados na Bíblia: Sálih, Shu’ayb, Húd… (…) *
Homem entre os homens,
Maomé nasceu no ano 570 da era cristã e morreu a 8 de Junho de 632. É,
portanto, um personagem histórico. A pregação, que iniciou com a idade de
quarenta anos, de modo algum pretende reivindicar para si outro estatuto que
não seja o de “homem, enviado de Deus” (…) Mais, a aceitação da dimensão humana
é reivindicada como uma condição da profecia monoteísta: “Não se admite que o
homem a quem Deus deu o Livro, a sabedoria e o dom da profecia dissesse aos
outros homens: ‘Sede os meus adoradores e não de Deus’” (Alcorão) *
Se as religiões do
Livro (Judaísmo e Cristianismo), com as quais o muçulmano afirma ter tantas
afinidades, possuem livros sagrados, esses textos apresentam-se como textos de
inspiração divina. O Alcorão, em contrapartida, apresenta-se como um livro de
“revelação” (…) *
O Alcorão, tal como
todas as revelações, é uma chamada de atenção: as provas da existência de Deus
que fornece estão já inscritas na criação e na ordem que preside ao universo
criado. É significativo que o primeiro versículo revelado a Maomé seja o
famoso: “Lê, em nome de teu Senhor, que criou”. Mas não menos significativo é
ver que a chamada de atenção toma como tema o facto de que Deus é o Fátir, o
criador integral, ex nihilo (a partir do nada), e que é o organizador da sua
própria criação; assim, a obediência do universo (…) a certas leis, é
apresentada, ao arrepio da argumentação de um Epicuro ou de um Lucrécio, (…)
como uma prova da sua criação por Deus, pelo Deus único. *
(…) O Alcorão está
omnipresente na vida de cada muçulmano. Está presente na educação da criança, a
quem é ensinado desde a mais tenra idade. O Alcorão constitui a referência de
todas as conversas, não apenas teológicas mas literárias. A sua leitura
integral, khatm, é sempre, à letra, um “cumprimento”: celebra tantos os
momentos fastos como os acontecimentos infelizes (…) *
As obrigações
cultuais do muçulmano são muitas vezes designadas pela expressão “os cinco
pilares do Islão”: a profissão de fé, a oração, a esmola, o jejum do mês de
Ramadão e a peregrinação comunitária a Meca (sob condição de capacidade
material e física). *
(…) Nessa
cidade-encruzilhada (Meca), conheciam-se e reconheciam-se os adoradores de
divindades múltiplas e variadas. Havia até uma espécie de modus vivendi que
fazia com que se admitissem todos os seus ídolos num templo único, a Ka’aba (etimologicamente,
“o Cubo”), objecto de uma veneração comum e de um culto comum. O respeito por
esta “casa”, onde se encontrava a Pedra Negra, impunha-se a toda a gente e
manifestava-se nomeadamente pela celebração de uma peregrinação anual (…) Eram usos
imemoriais de tal modo institucionalizados, de tal modo ligados à organização e
à administração da cidade que, paradoxalmente, até os defensores da crença no
Livro, nomeadamente judeus e cristãos, pareciam ter-se acomodado a eles. E ao
ponto de a Ka’aba abrigar, na ocasião em que Meca se rendeu ao Profeta, uma
representação de Abraão e outra da Virgem com o Menino: vizinhas, pois, dos
trezentos e tantos ídolos que lá se acumulavam. A sua presença indicava uma
realista mas paradoxal “cohabitação”. *
A especificidade do
Islão relativamente às outras religiões é, pois, o lugar que nele ocupa a fé na
escala dos valores. O que pode explicar muitas grandezas. Tal como poderia, sem
os desculpar, explicar muitos desvios: quando o acesso - ou o regresso - à fé não
é acompanhado da consciência do caminho percorrido até lá e da compreensão por
aqueles que não o percorreram. E, do mesmo modo, já não há fé quando a
convicção de ser detentor da verdade legitima o desprezo por aqueles que não a
detêm, quando o esforço no caminho de Deus leva a encarar como inimigos os que
levantam, ou simplesmente são obstáculos. Tais erros são próprios de espíritos
e almas que desesperaram da força de Deus. *
* “As grandes religiões do mundo”,
Azzedine Guellouz, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.
PS: segundo a Wikipédia,
o Islão ensina seis crenças principais:
- a crença em Alá (Allah), único Deus existente;
- a crença nos anjos, seres criados por Alá;
- a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Alá ao profeta Maomé;
- a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o último;
- a crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão avaliadas;
- a crença na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.
Pequeno
léxico:
Alcorão
= (literalmente) “a Leitura”
Islão
= (literalmente) “submissão a Deus”
Muçulmano
= crente no Islão
Pedra Negra = Segundo
a tradição, a pedra (possivelmente um meteorito), com cerca de 50 cm. de diâmetro, foi
recebida por Abraão das mãos do anjo Gabriel (Wikipédia).
1 comentário:
o islam é do diabo!
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