António Mesquita
"O
Sr. Proudhon não esgotou ainda todas as razões pretensamente económicas. Eis uma
duma força soberana, irresistível: é da consagração soberana que nasce a moeda:
os soberanos apoderam-se do ouro e da prata e apõem-lhe o seu selo. Assim o
livre arbítrio dos soberanos é, para o Sr. Proudhon, a razão suprema em
economia política! Na verdade, é preciso ser completamente destituído de
todo o conhecimento histórico para
ignorar que foram os soberanos que, em todos os tempos, se sujeitaram às
condições económicas, mas que nunca eles fizeram a lei. A legislação tanto
política como civil não faz mais do que
pronunciar, verbalizar o poder das relações económicas."
"Miséria da Filosofia" (Karl Marx)
O tom de polemista
utilizado por Marx não é aqui, para nós, o mais interessante. Ele fala com a
autoridade de quem acaba de deslindar uma situação complexa (a do sistema
capitalista) e contempla os patéticos esforços dos que procuram explicações ou
justificações. Aliada à teoria da "alienação", a sua crítica
parece não deixar "pedra sobre pedra". Porque mesmo os bem
intencionados, ou até as vítimas desse sistema, foram por essa teoria
destituídos, à partida, de qualquer competência.
Por muita experiência
que se tenha, hoje, do funcionamento daquilo a que Marx chamou de sistema
capitalista ( e o facto desse conceito ter aplicação quase universal prova até
que ponto a teologia foi mais longe do que a crítica), e por muita reflexão que
tenha suscitado, ninguém hoje pode falar com a autoridade ( ou com a certeza
dogmática) com que Marx falou, no início duma época que iria marcar para
sempre.
A causa principal
dessa incapacidade é do domínio dos factos históricos, mais do que do domínio
da crítica filosófica. A força do "Socialismo do Leste" revelou-se um
"castelo de cartas", no momento em que o homem real pôde, enfim,
tomar o lugar do "homo sovieticus".
A crítica da
ingenuidade de Proudhon parece hoje mais do que fundamentada. Mas só se
tornou óbvia com o progresso da influência marxista.
Nos tempos que
correm, a política do BCE (que não é central nem europeu) parece tão enredada
nos seus preconceitos ideológicos como a teoria da "moeda soberana" o
estava no espírito de Proudhon.
Também aqui, para a
crítica se tornar óbvia, é preciso um "veículo" (para empregar um
conceito da nova finança) social que tarda a surgir.
Sem comentários:
Enviar um comentário