01/11/11
ESCUTANDO BACH
Alcino Silva
A noite sossega-me ou então são as luzes interiores que abafam a claridade e trazem até mim esta sensação de acalmia. Deixo que os olhos se percam na luxúria do barroco, nesse amarelo fosco com que quiseram alardear grandeza e que ornamenta cenas de martírio. Que contradição, ou hipocrisia, enaltecer os mártires rodeando-os de esplendor, não da virtude, mas da riqueza, quase sempre espoliada. A música surge, abafando aos poucos estes pensamentos, estes deleites meus de percorrer a memória, procurando-te na história, pois também tu preferiste ser passado. O deambulatório abre-se em azul de mar e os sons parecem chegar nessas ondas de maresia nocturna em que a brancura aparece reflectida pela luz lunar sobre a espuma que se espalha na terrena areia. Voam as notas como as aves em bando, acordando os meus sonhos, fazendo estremecer o tempo em que passeava sorrindo nas manhãs que chegavam, abrindo-se como as pétalas das flores quando o sol pousa sobre as suas cores. Um adormecimento sacode-me nesse recordar do que já parece longínquo e acordo no espaço da fronteira, não dessa que tantas vezes demarca os seres humanos, as culturas, as terras, os lugares e até as línguas que se exprimem. Não, esta é um outro traço, uma linha invisível que separa a vida, do silêncio, essa onde me encontraste, e de onde me retiraste dessa atracção que me conduzia em tempo marcado para o outro lado do caminho. A melodia suave que pousa em mim, nesta noite morna, coloca-me outra vez nesse trilho de montanha, nesse duplo traçado com ponteado indefinido a mostrar a separação, como se dividisse o dia e a noite, a escuridão e a claridade. É um fim de tarde e a paisagem permanece nessa beleza estonteante do pretérito. Os átomos do tempo fusionam-se na lembrança do belo. Sinto a tua mão na minha, nessa fragilidade de um elo que se pode quebrar, talvez gasto pelo tempo ou desajustado ao lugar. Percebe-se esse instante em que a diferença marca lugar no mundo das coisas e aceitamo-la como a compreensão do inevitável. Por momentos, as mãos ficam suspensas como se fossem cair, vazias, inseguras, mas quase logo encontram o antigo lugar, junto ao corpo onde pertencem. A música vem nessa dolência crepuscular e adula-nos o olhar para que não sinta esse humedecer nocturno do caminho que agora me leva. Os trajectos paralelos prosseguem, mas quando as cordas dos violinos se agitam, tangendo em sintonia com o cravo, nasce uma curva, lenta mas em distintas direcções. Os poentes que olhamos já não possuem as mesmas tonalidades e ao contrário do teu, aquele que se me oferece olhar, distende-se em cinzentos enevoados. Numa encruzilhada detenho-me observando o sábio que procuro imitar. A mão fechada e o indicador aberto, debruço-me sobre o chão e procuro a geometria do desenho do futuro. As linhas saem perfeitas, rectilíneas, suaves, sem tremuras, mas a figura não encerra, o princípio não encontra o fim, o correr do dedo detém-se e a figura fica incompleta, sem definição. A frescura da noite invade-me o olhar, não há lua hoje, o som do cântico que vindo de ti me visitava, extinguiu-se levado pelas sombras que me rodeiam. Encerro os olhos e prossigo, creio que já percorri esta estrada.
UM GRITO CONTRA A BARBÁRIE
Manuel Joaquim
"Guernica" (Pablo Picasso) |
“O que é que você pensa que é um artista? Um imbecil que só tem olhos se é pintor, ouvidos se é músico ou uma lira que ocupa todo o seu coração se é poeta?
Bem ao contrário, é um ser político, constantemente consciente dos acontecimentos trágicos, irritantes ou felizes a que lhes responde de todas as maneiras.
Não, a pintura não se faz para decorar habitações.”
(Picasso a um jornalista depois da 2ª Guerra Mundial)
Faz hoje, 25 de Outubro de 2011, 130 anos que nasceu Picasso. E faz trinta anos que chegou definitivamente a Espanha, vinda do Museu de Arte Moderna, de Nova York, uma das suas obras mais extraordinárias que é GUERNICA, no cumprimento do desejo do Artista de que voltasse a Espanha quando se restabelecessem as liberdades políticas.
GUERNICA, pequena povoação vasca, foi terrivelmente bombardeada pelos aviões nazis alemães, em 26 de Abril de 1937, em apoio dos franquistas, que tinham feito em Julho de 1936 um golpe de estado contra o governo republicano, legitimamente eleito, de que resultou a Guerra Civil espanhola.
GUERNICA foi testemunha da barbárie cometida durante a Guerra Civil e passou a ser um símbolo da luta pelas liberdades democráticas e da luta contra a guerra e em defesa da paz.
Pablo Picasso, nomeado director do Museu do Prado, que não chegou a tomar posse, foi encarregado, pelo governo republicano, em Janeiro de 1937, de executar uma grande obra para a Expo de Paris a realizar em Julho desse ano.
Perante o bombardeamento da aldeia de GUERNICA, Picasso pinta os primeiros esboços em 1 de Maio de 1937. Em 10 de Maio começa o trabalho definitivo. Em 4 de Junho termina a sua GUERNICA. Em 12 de Julho a obra é exposta na Expo de Paris, ao lado de uma obra em representação da Alemanha nazi.
Em 1939 termina a Guerra Civil espanhola e inicia-se a ditadura franquista. Em 1940 a obra é depositada no MOMA, de Nova York, com o desejo manifestado pelo o Artista. Em 8 de Abril de 1973 morre Picasso. Em 20 de Novembro de 1975 morre Franco. Em 15 de Junho de 1977, primeiras eleições livres em Espanha. Em 10 de Setembro de 1981 GUERNICA chega a Espanha. Em Julho de 1992 é instalado no Museu Rainha Sofia, em Madrid.
Picasso viveu muitos dos conflitos bélicos do século XX, a guerra de Cuba, as guerras em África, as duas guerras mundiais, a guerra da Coreia. A ansiedade com que viveu os grandes sofrimentos da humanidade está retratada em muitas das suas obras. Isso é evidente no tempo que demorou a execução de GUERNICA. Como é evidente na sua obra Massacre na Coreia, de 1951.
Será que algum Pintor irá fixar para a posteridade a destruição de cidades inteiras e a morte de milhares de pessoas na mais recente guerra do imperialismo norte americano, inglês e francês, pela cobiça de importantes jazidas de petróleo da melhor qualidade, de abundantes quantidades de gás natural e de enormes lagos subterrâneos de água fóssil em pleno deserto, para além do roubo de quantidades colossais de dinheiro depositados em bancos dos países agressores?
A MENINA E O CANZARRÃO
Já o conhece e prevê que, mesmo furtivamente, tente escapar colocar-se-á numa postura firme de recusa e rosnará assustadoramente. O que fazer e como fazer. Difícil uma saída. Ainda mais com a pesada pata no seu ombro esquerdo.
A frialdade nos seus pés nus procura quebrar o círculo da ausência aparente. O seu pensamento voa. Não consegue ignorar a meiguice do bicho. Talvez por isso assim se mantêm e se manterá até ao momento em que ele esgotará a sua paciência. Nessa altura, descerá da cama, e ela sentirá nos seus pés o bafo quente do seu ofegar. Até um meigo lamber. E aconteceu.
Retoma a vida. Vai direita ao guarda-vestidos, escolhe roupa alegre e fresca para aguentar o calor tardio do estio. Já vestida e composta, sai do quarto e antes de se afastar de casa faz uma pequena caminhada com o seu amigo. E ele vai, correndo e saltando, acelerando e desacelerando como puto posto em liberdade. Contrai os esfíncteres e alça a perna, aqui e acolá, de novo partindo à desfilada, esgotando as energias.
Mas ela tem de sair. Ele percebendo, olha-a e ladra. Espera que ela ternamente lhe afague o pêlo e lhe beije o focinho. E despede-se. Até logo Vítor e não me apertes mais quando eu regressar. Porque eu quero viver, continuar a acreditar que há um sentido para tudo e resplandecente. Não este discurso trágico com que inundam o dia-a-dia.
Como se não houvesse vida para além dos nossos pecados colectivos.
MUROS RELIGIOSOS (5) A Igreja Protestante *
Mário Martins
A Bíblia (Wikipédia) |
“Não tenho fé no papa nem nos concílios isoladamente. (…) Estou ligado pelos textos escriturísticos que citei e a minha consciência está cativa das palavras de Deus. Não posso nem quero retractar-me em nada, porque não é seguro nem honesto agir contra a própria consciência. (…) Não posso fazer outra coisa, que Deus me ajude.”
Martinho Lutero **
Em Junho de 1520, a bula papal Exsurge Domine intima um frade agostinho, professor de Sagradas Escrituras em Wittenberg, Martinho Lutero, a retractar-se. Três anos antes Lutero redigira noventa e cinco teses que criticavam a “virtude das indulgências” vendidas para favorecer a reconstrução de São Pedro de Roma (e que supostamente permitiam o perdão de pena de certos pecados). **
A Reforma proclamou três grandes palavras de ordem: apenas Deus, apenas a Escritura, apenas a graça. A sua radicalidade identifica-se pela vontade de suprimir os acrescentamentos que, segundo os seus adeptos, terão, ao longo dos séculos, desfigurado o cristianismo primitivo. **
Apenas Deus. Esta primeira afirmação é o fundamento das outras duas: Deus dá-se a conhecer a cada um de nós apenas através da Escritura e não delega a sua graça em nenhuma instituição. Para a imensa maioria dos protestantes, trata-se do Deus trinitário (Pai, Filho, Espírito Santo). **
Despojada de qualquer aspecto mediador, a Igreja deixa de ter a autoridade sacral, a infalibilidade necessária para poder ser só uma. (…) Do mesmo modo, nenhuma criatura pode ser objecto de orações ou de adoração: nem Maria (que teve outros filhos depois de Jesus) nem os santos. **
A ausência de mediador possível entre Deus e o ser humano dessacraliza o ministério eclesiástico (…) O pastor possui uma especialização (anunciar a Palavra, administrar os sacramentos) que não constitui um monopólio e que um leigo, formado para tal, pode igualmente exercer (…) Em geral, é nomeado pela igreja local e não por uma hierarquia. As mulheres, na maioria das Igrejas de hoje, podem ser pastores. Em todos os casos, o pastoreio pode ser exercido por pessoas casadas. **
O papel do pastor no culto não é o mesmo que o do sacerdote na missa. Com efeito, não existe sacrifício da missa nem qualquer qualidade específica do oficiante que o torne participante no acto divino de uma forma diferente dos outros fiéis. Acentua-se o apagamento de todo o actor humano diante do “Deus apenas” (…) Escrevia Lutero: “Que todo o homem que se reconhece cristão esteja certo e saiba que somos igualmente sacerdotes, isto é, que temos o mesmo poder relativamente à palavra e a qualquer sacramento.” **
Apenas a Escritura. “A autoridade soberana da Escritura em matéria de fé” é, segundo a teologia protestante, o “princípio formal” da Reforma. A Igreja relativizada pelo “apenas Deus” aí recebe a sua legitimidade: a sua missão consiste em pregar a Palavra e em administrar os sacramentos, sinais da graça. (…) **
A importância atribuída à Bíblia está também ligada ao privilégio concedido à audição, que suplanta a imagem, às vezes suspeita de poder transformar-se num objecto de veneração que, na prática, pode resvalar para a adoração (…) A mesa da comunhão (que substitui o altar) inclui uma grande Bíblia (…) É a palavra bíblica que confere sentido aos sacramentos. Não se verifica uma grande separação entre a nave e o coro: a assembleia reúne-se colectivamente no coro para tomar a ceia. **
Quanto mais sóbrio é o universo protestante mais intenso é o apego à Bíblia (…) Contudo, o protestantismo, no seu conjunto, quer dirigir-se também ao coração dos fiéis. A Reforma fez do canto religioso um dos seus meios de expressão privilegiados, instrumento de uma participação mais activa dos fiéis no desenrolar do culto (…) Deste modo, um certo fundamentalismo bíblico é acompanhado de um calor comunicativo e de uma piedade emocionalmente carregada. **
Apenas a graça. Ao princípio formal da autoridade soberana da Escritura corresponde um princípio material, o da justificação pela fé, obtida exclusivamente pela graça de Deus. (…) Lutero considera que, faça ele o que fizer, o ser humano tem necessidade da salvação pela graça. As suas obras estão marcadas por uma tara indelével: quando quer servir os outros, serve-se também deles para fins pessoais (…) Como as obras já não podem concorrer para a salvação, a moral é considerada antes de mais nada como um testemunho de reconhecimento em que cada cristão é chamado a responder pela “santificação” à sua justificação (…) **
* Embora existam várias e diferentes igrejas protestantes, como, aliás, no campo ortodoxo, preferi reservar o nome de religião para o cristianismo que, como disse em artigo anterior, abarca o conjunto das igrejas católicas, ortodoxas e protestantes.
** “As grandes religiões do mundo”, Jean Baubérot, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.
DA RAPINA
"Não há salvaguardas institucionais de último recurso para obrigar os poderes de emergência a respeitarem a constituição. Só a determinação do próprio povo em fazer que sejam usados assim pode assegurar tal coisa... Todos os modernos sistemas constitucionais quasi-totalitários, sejam eles a lei militar, o estado de sítio, ou os poderes constitucionais de emergência, falham em conformar-se a qualquer padrão exigente de efectivas limitações duma concentração temporária de poderes. Consequentemente, todos estes sistemas são passíveis de se transformarem em esquemas totalitários se as condições forem favoráveis para tal."
"Constitutional government and Democracy" (Carl Friedrich, citado por Giorgio Agamben)
O texto é de 1941 e tem em mente, sobretudo, os acontecimentos na Alemanha, com a tomada do poder, legalmente, por Adolf Hitler. Há, pelo menos, uma razão para não se poder fazer uma analogia com o que se passa, hoje, em Portugal, na Irlanda ou na Grécia, em que a soberania nacional foi limitada pelos credores, ao ponto de ter passado a existir, nesses países, uma "ocupação" estrangeira invisível, mas quase tão asfixiante.
A tese de Friedrich só não se verifica porque os "invasores" fazem parte de um quadro político supostamente solidário, que funciona como um seguro contra o risco de ganância desmesurada do capitalismo financeiro, ao abrigo do qual os credores podem esperar, como o Shylock do "Mercador de Veneza", a sua libra de carne, ao mesmo tempo que as vítimas ou se conformam com os "superiores interesses", interiorizando a teoria de que vivem ou viveram "acima das suas possibilidades", ou esbracejam contra o ar por falta de um "exército de ocupação".
Este é bem um sinal de como a realidade tem de ser entendida já ao nível da nossa tecnologia, com a velocidade dos nossos equipamentos electrónicos e a contracção geográfica virtual. O capitalismo de Marx e Engels tem hoje uma agilidade infinita e uma capacidade para se metamorfosear sem precedentes. Os novos abutres, graças à velocidade a que o sistema funciona, são ubíquos e nada escapa ao seu olho predador.
Podemos, depois de termos perdido a soberania, estar em vias de conhecer um novo tipo de anarquia, que é a do poder que não tem qualquer interesse racional no futuro.
O TEMPO DO DESASSOSSEGO
Mário Faria
(somanywds.wordpress.com) |
1 de Maio de 1975. Com alguns colegas, companheiros e camaradas dirigíamo-nos para o Sindicato para integrar o cortejo alusivo à data, quando nos cruzámos com uma série de manifestantes da “ferrugem” que, reconhecendo pelos cartazes, que éramos profissionais de seguros, nos disseram, mais em sinal de gozo que de acinte, qualquer coisa como: “ revolucionários ? burgueses é o que vocês são “. As palavras não terão sido exactamente essas, a ideia sim. Na altura, fiquei chocadíssimo. Senti-me insultado.
Passados estes anos todos, achei que os homens tinham razão. De facto, não era nem sou revolucionário, porque não era operário, nem antes e depois, mais tarde porque passei a relevar o direito à opinião, livre expressão e iniciativa privada como parte tangível de qualquer sistema político. Acreditava e continuo a acreditar que o socialismo, concebido no passado, tem futuro, ainda que num quadro menos ortodoxo. Têm de ser as novas gerações (ou as velhas) a descobrir o melhor caminho. Têm de ser intelectuais ou académicos a reescreverem o modelo e o método. Têm de ser os trabalhadores a provocar, estimular e a constituir-se como a locomotiva de uma política diferente a caminho de uma nova ordem. O Objectivo, esse não diferirá muito : chegar a uma sociedade mais justa em defesa dos trabalhadores e oprimidos. O trabalho não pode ser subjugado (em alguns casos escravizado) em favor de uma minoria que detém o capital. Já os meios não podem acolher os erros cometidos no passado : políticos, sociais e económicos . A liberdade e a iniciativa privada, mais do que toleradas, têm de ser enquadradas mas, nunca desvalorizadas.
Um dos problemas que se vive de momento é o facto de do “socialismo real” não se constituir como um modelo alternativo, depois do colapso da URSS. De facto, mesmo os partidos de esquerda, como o PCP e BE, combatem o sistema capitalista com a retórica dominante, e segundo as regras que estabelece. Diverge-se nas soluções do Governo actual porque, sendo penalizadoras para os trabalhadores, são más para a economia e causam recessão. Fala-se mais do modus faciendi para a saída da crise do que atacar o sistema que a pariu. O problema, na minha perspectiva, não decorre apenas de erros de governação ou da banca. O capitalismo não é regulável: não faz parte do seu ADN, como comprova a decadência das sociais democracias, nomeadamente da 3ª. via de Tony Blair.
Nada nasce ou morre, tudo se transforma. O capitalismo foi capaz de vestir diferentes vestes para sobreviver e progredir. A iniciativa privada, a ciência e a tecnologia deram passos de gigante para a melhoria qualitativa dos povos. Mas, os recursos estão exauridos e as soluções saturadas. O capitalismo se não está em vias de implosão, anda lá próximo. Será que, com a tragédia à vista, vai ser possível um novo rumo e o ressurgimento do sistema ? Tenho dúvidas e entendo que as soluções possíveis (só) serão encontradas pela via do autoritarismo e do empobrecimento generalizado. Uma espécie de Patriot Act, económico-financeiro, com leis e regras criadas para que se possa vencer uma situação pré-proclamada de verdadeira emergência nacional, como o nosso governo não se cansa de repetir. Não há alternativa, dizem. Salazar avisava: “… as ideias devem poder exprimir-se, sem obstáculos. As ideias e as doutrinas. Mas é preciso não pensar em conceder a mesma licença a certas estreitas discussões políticas e libelos polémicos, nas quais as injúrias substituem os argumentos. O meu país era e é ainda um doente. É indispensável, para seu repouso, poupá-lo : não se deve gritar inutilmente no quarto de um doente….”. A sentença de não haver alternativas à actual política de ataque à crise, não é mais do que uma forma suave de dizer o mesmo.
Não faço ideia do que se possa fazer neste tempo tão minguado de revolucionários e de novas ideias. Indignados, pois sim, estamos quase todos. O Maio de 68 foi um tsunami de protesto que acabou concedendo a maioria a De Gaulle. Como unir essa maré de descontentamento, quando se sabe que uma boa maioria está muito mais contra os políticos e os partidos tradicionais e bastante menos contra o sistema. Para muitos, talvez a maioria, não é uma questão de modelo é mais uma questão de (má) gestão da coisa pública.
Quem poderá substituir os operários como motores de mudança. Tem a palavra a esquerda que, insisto, tem recorrido à critica às opções que são tomadas pelos governos, quase sempre num registo de soluções alternativas no quadro do sistema. O direito à indignação e à resistência são os meios à mão que não são dispensáveis, mas é preciso dar um passo em frente. Quando, como e com que pé, não sou capaz de minimamente definir. Espero, desassossegadamente !
Subscrever:
Mensagens (Atom)