Mário Faria
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Assistimos ao início de um mudança radical em Portugal, já testada noutros países europeus e que teve a sua mais eloquente expressão no período em que Margaret Tatcher governou, sustentada nos princípios da democracia liberal esvaziados por um ultraconservadorismo no plano cultural, um ultraliberalismo no plano económico, um excessivo autoritarismo no plano social, e cujas bases ideológicas se situam nas teorias de Frederick August von Hayek que defendeu os méritos da ordem espontânea. Segundo Hayek, uma economia é um sistema demasiado complexo para ser planeado por uma instituição central e deve evoluir espontaneamente, por meio do livre exercício dos mercados.
A “apropriação dos postos de trabalho” sustentada na redução, ao mínimo possível, da concorrência entre trabalhadores no mercado do trabalho, bem como da margem de liberdade contratual do empregador para gerir os recursos humanos, são alguns dos argumentos na defesa da flexibilização das leis laborais. O monopólio sindical da contratação colectiva do regime português é acusado de manifestar efeitos perversos típicos dos monopólios e, assim sendo, quebrar a espinha dorsal do movimento sindical português faz parte seguramente da estratégia da direita para o novo ciclo pós-eleitoral.
É também isso que querem os empresários portugueses quando reclamam leis laborais menos rígidas, logo mais flexíveis : ter menos empregados nas suas empresas (e, já agora, ainda mais disponíveis para ajustarem horários, mudarem de funções ou irem trabalhar para outro sítio para, por essa via, reduzirem os custos com pessoal) e assim obterem ganhos na colocação do produto ou do serviço no consumidor final . A descida da TSU é outro meio há muito reclamado pelos patrões. Competitividade 0.
É por isso que eu sempre digo que os dentífricos mais publicitados não são os que lavam os dentes melhor. Embora o capitalismo moderno continue a não resolver o velho vírus da desigualdade, continua a vender-se bem. A social democracia parece ter os dias contados, perdida nas imensas contradições de ter de servir o capital e dever garantir a coesão social. E na dúvida (ou na actual crise) prevalece sempre a lei do mais forte !
Porra, sinto uma enorme défice na compreensão de temas da economia e das finanças e sigo na TV todos os debates sobre a crise, o PEC4, a troika, o resgate da dívida, o timing do pedido, o valor dos juros, o caso grego, a economia, a necessidade de crescer acima dos 2,5% em tempos de comprovada recessão, a reestruturação da dívida, a saída do Euro e da UE, o cumprimento do memorando, as alternativas, as eleições, os programas, o TSU, as privatizações, o aumento dos impostos, a falta de investimento, o presente e a ausência de futuro. Viciei-me de tal forma nos debates que até sub-valorizei as estrondosas vitórias do FCP. Durmo mal e temo o pior. Porra, apesar da overdose a que me submeti, sei o que não quero, mas não vejo forma de poder ser impedido. Sinto-me impotente. Dependo da reforma e de uma pequena poupança que aforrei. Quanto valem ? Nada ! Estamos completamente à mercê da troika e da banca. A nossa esperança de vida anda pelos quatro anos, se não morrermos, antes, afogados na diarreia dialética que inunda os media todos os dias.
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