Mário Martins
“Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar”
Os Deolinda
Há muito que a esquerda político-partidária e sindical vinha denunciando a precariedade do emprego, quer dizer, em primeiro lugar, a falta dele, e depois, como vem nos livros, a desvalorização do factor trabalho, seja em termos remuneratórios, seja em termos de protecção jurídica. Dizer emprego precário é dizer vida precária e sociedade desagregada e esta situação configura, sejam lá quais forem as razões, um claro recuo civilizacional em termos portugueses e europeus.
Mas foi preciso que um grupo musical, para mim desconhecido, estrear no Coliseu do Porto a canção “Que parva que eu sou”, que muito boa gente, aliás, considera de fraca qualidade, para todo o mundo falar na precariedade como se fosse pela primeira vez e a situação fosse nova. Parafraseando um conhecido teórico dos meios de comunicação, Marshall McLuhan, o meio foi a mensagem.
A surpresa não terminaria aí, porque da forja do facebook emergiria, plena de força, uma geração “rasca”, agora “à rasca”, num movimento do contra, à margem dos partidos e sindicatos, sem dúvida muito menos intelectual mas, para meu gosto, mais pacífico do que o famoso Maio de 68, cujos efeitos, que uns aplaudem e outros lamentam, ainda perduram.
Aqui, mais uma vez, a novidade foi a forma. Este fogoso e travesso exercício da liberdade de expressão, precisa agora de encontrar meios de participação e representação políticas. Como explicava há dias um politólogo na TV, entrámos numa nova fase da vida política nacional, em que há uma função (o movimento da geração “à rasca” ou dos facebooks) mas não há órgão, e sem juntar uma coisa à outra não há poder.
Finalmente, é a forma que está na origem da actual crise política. É verdade que, quanto ao conteúdo, estamos na mão dos credores e da União Europeia e que não sabemos (no momento em que escrevo, 16 de Março) qual é o PEC do PSD, mas como não compreender a reacção de toda a oposição e do patriarca Mário Soares ao comportamento errático e sobranceiro do Primeiro Ministro?
Talvez que as prováveis eleições que se avizinham sejam a oportunidade necessária para o Presidente da República patrocinar um governo com condições para fazer o que é preciso, em termos financeiros, económicos e sociais.
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