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01/04/11

A FOME, A MORTE E A GUERRA

Mário Faria
Four_Horsemen_of_Apocalypse_by_bigTaki


Depois de três Pec’s (do orçamento)  e antes do quarto, José  Sócrates demitiu-se. Consumou-se o fim  do caminho há muito anunciado : um governo desgastado e um líder aparentemente sem qualquer apoio fora do partido, incluindo a comunicação social, a igreja, as associações  empresariais, os sindicatos, os tudólogos (os tais que sabem tudo de tudo ) e cujo habitat preferencial é a TV.

Sócrates, ao não cumprir os formalismos a que deveria obrigar-se antes da apresentação  do PEC 4, accionou os mecanismos da demissão que tinha anunciado, em forma de ameaça. A passadeira tinha sido estendida pelo Presidente da República na tomada de posse e Passos Coelho aproveitou a boleia do grande-chefe e não deixou escapar a oportunidade. Não esteve sozinho,  pois toda a oposição rejeitou mais austeridade, uns pela forma, outros pelo conteúdo, todos porque consideram o primeiro-ministro o mal maior e o principal responsável da grave crise que atravessamos.

Seja como for, vamos ter um governo de direita, saído das próximas eleições: menos Estado, mais privatizações, menos direitos, mais precarização, menos subsídios (aos carenciados), mais ajudas (às empresas), menos maçonaria e  mais oppus dei.  De resto, cumpriremos as ordens de Merkel que agirá  em função da vontade dos mercados.  Ela sabe que os mercados pensam e agem, castigam e premeiam,  segundo o mérito e o tamanho.  São virtuosos, como disse o patrão do Banco de Portugal. A nossa dívida é um pecado mortal. Vamos ser castigados, sem dó nem piedade.  Somos pequeninos e pusemo-nos a jeito. Que interessa que haja mais fome : apenas estão a dar cumprimento às regras. São temidos e não têm rosto, os vampiros !
Já não sei o que pensar, só sei que não quero ir por aí (para onde me querem levar) e que  são quase todas as vias que me apontam, diga-se em abono da verdade. Temos eleições para decidir o que está decidido.  Temos a liberdade de escolher. Será ?

Os japoneses depois do sismo e do tsunami que lhe seguiu, vive o espectro de um gravíssimo desastre ambiental.  A situação na central nuclear japonesa de Fukushima está completamente fora de controlo, e os danos serão mais graves que os ocorridos em  Hiroshima e Nagasaki,  apontam alguns cientistas. Entretanto, os japoneses vivem sob essa ameaça, aparentemente com uma grande paciência e muita ordem. Não estou habituado a que se aja assim e o conformismo não é uma arma  de combate.  Apesar da tragédia, prefiro a ordem ao caos. Os japoneses, apesar dos elevados riscos que correm, têm tido um comportamento muito próximo do exemplar. A energia nuclear, está em debate por esse mundo fora. Fica esse pequeno bónus para os vindouros. Será ?

Alguns países ocidentais resolveram  atacar a Líbia. Hoje, a coordenação da acção militar  já compete à NATO. Não houve votos contra no Conselho de Segurança. Detesto ditadores e odeio guerras. Khadafi, um déspota,  nestes últimos anos do seu mandato, como que legitimou o sua governação em função da condenação que assumiu por palavras (e actos?) contra o terrorismo islâmico. “Em 2003 Khadafi anunciou que desistira das armas de destruição em massa e que pretendia juntar-se à guerra ao terror, eixo da política externa americana durante o governo Bush. Logo depois George W. Bush suspendeu as sanções contra a Líbia. Em seguida, os produtores de petróleo dos EUA e da Grã-Bretanha expandiram suas actividades no país. Empresas como BP, Exxon, Halliburton, Chevron, Conoco e Marathon Oil juntaram-se a gigantes da indústria bélica, como Raytheon e Northrop Grumman, e a multinacionais como Dow Chemical e Fluor bem como à poderosa firma de advocacia White & Case para formar a US-Libia Business Association, em 2005” (Wikipedia)

Tenho alguma dificuldade em perceber esta intervenção e estou em grande parte de acordo com o que Valerice Brune (ouvida pelo Público)   declarou a propósito : “senti um grande nervosismo com a intervenção americana na Líbia, em parte porque é difícil distinguir entre civis e pessoas empenhadas em derrubar o regime; pelo conhecimento limitado de quem é a oposição, qual é a sua agenda e que apoio popular tem, sobretudo para lá da zona oriental do país; e pela dificuldade de definir a missão como uma que vai clarificar o plano político da Líbia, acabar com as violações dos direitos humanos em larga escala e apoiar uma mudança de regime”.

Em Portugal pouco se tem discutido a bondade desta intervenção militar. A esquerda, então, tem estado bastante calada, será porque como declarou Sócrates, representantes do Bloco no Parlamento Europeu votaram a favor da dita intervenção militar ? 

A fome, a morte e a guerra continuam,  sejam os seus actores o vampirismo financeiro, o desastre ambiental ou a guerra. A luta dos justos tem de continuar. Será que ainda vamos a tempo de o fazer pela via de métodos pacíficos ?


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