Quando começou a dar os primeiros passos e a ouvir os sons que o rodeavam, um belo dia, descobriu que em cima da mesa da cozinha estava uma grande caixa cheia de botões onde seu Pai, à noite, depois do jantar, mexia e logo se ouvia homens e mulheres a falar e sons que o faziam sonhar.
Mais tarde, sem que a Mãe o visse, punha-se de joelhos num banco e fazia o que aprendeu ao ver o Pai. Ligava o rádio e ouvia, extasiado, as palavras e a música que passavam através do pano e tentava mirar o estranho interior do aparelho.
Alguns dias mais tarde, verificou, com os seus próprios olhos, depois de o Pai ter tirado a tampa, que o rádio não tinha ninguém lá dentro. Tinha lâmpadas acesas e muitos fios e que era através deles que os sons eram transmitidos.
Foi assim, de joelhos em cima de um banco e debruçado sobre a mesa da cozinha, muito juntinho àquele precioso rádio, que começou a gostar de ouvir musica, a aprender, através dos sons, a conhecer o nome dos instrumentos que nunca tinha visto, a maravilhar-se com o som do violino.
Não descansou sem que o Pai lhe mostrasse um violino numa tarde de passeio dominical. Não conseguiu mais do que isso, pois o preço e a aprendizagem eram inacessíveis.
O seu amor pelo violino não morreu. Guardou-o na mais profunda da sua intimidade.
Já homem, enamorou-se por uma jovem, linda, simpática e bem cheirosa, mas, com o tempo, o deixava triste e infeliz, porque o brilho de ambos foi-se esbatendo e desapareceu.
O fim deste amor fez renascer o outro que estava bem guardado. Como se estivesse loucamente apaixonado, foi comprar a toda a pressa um lindo violino, dentro duma caixa de pele, forrada a veludo vermelho, e começou a ter lições de música para aprender a tocar.
Com juras de grande amor e fidelidade nunca mais abandonou o seu violino. Acariciava-o com grande ternura, falava com ele quando se sentia só, acompanhava-o para toda a parte e na roda dos amigos alegrava-os com os seus belos sons.
Num certo dia, em viagem, faltou a gasolina no carro. Para quebrar as arrelias dos amigos que acompanhava, sentou-se numa pedra, à beira da estrada, e começou a tocar o seu violino. Entretanto, mais gente se aproximou para ouvir tão linda música, até que um voluntário prontificou-se a ir buscar gasolina à bomba mais próxima. O violino tinha semeado flores nos corações presentes.
Há uns tempos deixou-se de ouvir o violino. A professora do yoga, Dinorah, disse-nos:
" O Senhor Dias foi-se".
O violino estava agora sem o seu companheiro de muitos anos. Estava triste e a envelhecer sem que ninguém lhe desse vida.
1 comentário:
Parabéns. É um conto muito bonito, só que tem um fim triste, ou será que é apenas realista...
um beijo
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