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01/08/09

O TELESCÓPIO

Mário Martins






No ano internacional da astronomia compreende-se que ele sinta alguma nostalgia por esses tempos em que se atrevera a fazer – imagine-se – um telescópio. Estavamos em meados dos anos oitenta, mas desde jovem que a poesia celeste o atraía. Bem, em rigor, ele queria era comprar um telescópio. Para isso, aproveitou o intervalo de uma sessão no Planetário de Lisboa (não havia ainda o Planetário do Porto) para se aconselhar com o monitor, Joaquim Garcia, mas a resposta foi desconcertante: por que não faz um?...Foi aí que a aventura começou.

Seguiu-se uma visita ao Observatório Astronómico “Prof. Manuel de Barros” da Faculdade de Ciências, ao Monte da Virgem, no Porto, e a aquisição, primeiro, da publicação do Observatório “Projecto e construção de um telescópio newtoniano de 150 mm.”, da autoria de Nazareth Rego e Joaquim Garcia, e, mais tarde, do livro de Joaquim Garcia “Como construír um telescópio”, que apresenta mais desenvolvidamente aquele projecto.

Depois, com o conselho e o estímulo de um familiar da Física, lançou mãos à obra, e era vê-lo, num canto da varanda do andar onde residia, a dar voltas e voltas a uma bancada de trabalho, pois assim o exigia a técnica de desbaste e polimento do vidro que viria a ser o espelho-objectiva, a comprar o carborundum do mais grosso para o mais fino, para o desbaste, e o óxido de ferro para o polimento, na Harker & Sumner, ali na Rua de Ceuta, ou as lentes de óculos usadas em vários oculistas da nossa praça, para fazer as oculares, ele a explicar para o que era, e um deles a perguntar-lhe com ar incrédulo: e isso funciona?..., julgo que nem levavam nada por elas, até que um belo dia, após mais de duzentas horas de trabalho feliz, e depois de passar com nota suficiente no teste de qualidade da óptica efectuado pela Drª. Nazareth Rego na Oficina do Observatório, apontou o tubo da varanda de casa à Torre dos Clérigos, lá longe, e viu, claramente vistas, as horas religiosas que não se lembra agora se estavam certas. A sua boca abriu-se então num largo sorriso que não pode esquecer, tanto mais que a sua mulher o fixou em oportuna fotografia.

Seguiu-se, naturalmente, a febre das observações que, não menos naturalmente, por razões várias, foi esmorecendo, até que, há pouco tempo, o Alcino, companheiro da Periscópio e de outras aventuras, organizou duas saídas ao campo, onde não terão passado despercebidos a cumplicidade e o embevecimento dele por ele, o telescópio, lá no alto, a dar-nos a luz das estrelas.



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1 comentário:

Nazareth Rego disse...

Eu sou a Nazareth do Observatório.
Gostei muito do que li.
Um abraço e parabéns.

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