É um absurdo considerar os políticos como os únicos responsáveis de todas as desgraças que acontecem no país. O actual governo tem exercido as suas funções de forma errática e entrou em conflito na gestão da coisa pública, sem cuidar da justeza dos conteúdos. Não foi capaz de levar as suas reformas até ao fim nem capaz de recuar, salvo no caso do novo aeroporto de Lisboa que nem por isso deixou de representar um claro fiasco político. Depois das eleições europeias passou a ser um governo de gestão corrente em marcha muito lenta, salvo no que diz respeito à campanha eleitoral para as próximas legislativas.
À oposição compete opor-se, e é o que tem feito de forma particularmente dura e oportunista porque (demagogicamente) esconde os efeitos da contaminação sofrida em função do lixo tóxico que veio à boleia da crise internacional, provocada pelos desmandos financeiros de mercados mais evoluídos e cuja representação em Portugal ficou ao cuidado de muito respeitosas instituições financeiras, lideradas por cidadãos e técnicos acima de qualquer suspeita, até aí tidos como exemplos maiores da superioridade da actividade privada.
Os Portugueses, consumidores de ideias mal compreendidas e pior executadas importadas do estrangeiro, tem de enfrentar a sua pequenez e perceber que essa é a razão mais que provável porque vamos ter mais dificuldades em sair da crise.
À beira das eleições legislativas, toda a oposição exige novas políticas e parece entender-se sobre as causas e os efeitos da doença e os remédios para cura. Há porém uma diferença enorme na acção da direita e da esquerda : é que os primeiros entendem-se sem remorsos, enquanto a esquerda nem para lá caminha, pese a proximidade (cultural, ideológica e de classe) dos militantes e dos simpatizantes de base do PS, PCP e BE.
Com efeito, essa maioria social não é capaz de se representar eleitoralmente com um programa ou uma plataforma de acordo. Reconheço a grande dificuldade de juntar uma força com cultura social democrata (muito próxima da 3ª via de Blair) e posicionada ao centro para governar, com outra de ideologia marxista e uma terceira que é um coquetel formado por ex-trotskistas, ex-udp, alguns dissidentes e uns quantos radicais que se revêem na dialéctica jovem e desempoeirada do bloco, bem mais próxima do PS, mas sem coragem política para assumir compromissos e partilhar o poder.
Que força é essa amigo que os torna tão irredutíveis ? Provavelmente a convicção que só é possível gerir o capitalismo exclusivamente segundo as suas regras, e que não é possível (no governo) gerir o país como os autarcas comunistas fazem nas câmaras que presidem, ou conforme o fizeram nas coligações com o PS na Câmara de Lisboa ou até no quadro do entendimento que Rui Sá estabeleceu com Rui Rio para a Câmara do Porto.
O Estado Providência e o modelo europeu é algo porque vale a pena bater-nos. O património de direitos conquistados e sufragados institucionalmente, a coesão, a liberdade e os direitos dos cidadãos e dos trabalhadores são valores demasiado importantes para ceder a impulsos radicais. Grande parte do tempo de antena conferido à esquerda e às manifestações de protesto é muito menos pela bondade do discurso ou pela justeza da acção e muito mais porque reforçam a ideia de pântano em que caiu este governo – tal como ocorreu com Guterres - e serve que nem canja à direita que se prepara para nos salvar do perigo de cair no lodo, porque só a direita fala verdade, é geneticamente capaz, nunca peca e raramente se engana.
Que força é essa amigo que se submete, aparentemente sem dor, a este discurso profético e a esta prática de homens que prometem a modernidade e um futuro mais justo para todos e são saudosos do antanho?
Que força é essa amigo que permite que se confunda o crime financeiro com a falha da supervisão ? Nem numa comissão parlamentar de inquérito entendo que os objectivos, o conteúdo e a forma que a esquerda utiliza seja em tudo idêntica ao que subscreve a direita. Aliás, nessa Comissão de Inquérito um tal de Nuno Melo escreveu a música e a letra, cantou e os outros serviram de meninos do coro .
Que força é essa amigo que leva Manuel Alegre a ser um rebelde relativamente a este governo pelos seus desvios à direita, quando foi capaz de ajudar Mário Soares a esconder o socialismo na gaveta, ou a participar activamente aquando da coligação entre o PS e o CDS ou com o PPD de Mota Pinto ? É uma tristeza se a estrela de Manuel Alegre para cintilar carece da ambição de chegar à presidência da república !
Que força é essa amigo que levou o PS a alhear-se completamente da aleivosia de Alberto João Jardim ao defender que "a democracia não deve tolerar comportamentos e ideologias autoritárias e totalitárias, não apenas de direita, caso do fascismo, esta expressamente prevista no texto constitucional em vigor, como igualmente de esquerda, caso do comunismo" ?
Que força é essa amigo que vos faz estar de bem com os outros e de mal com os que vos deveriam ser mais próximos ? Que força é essa amigo ?
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