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01/12/08

A TURMA

António Mesquita

"A Turma" (2008-Laurent Cantet)



Só em parte o filme de Laurent Cantet "A Turma" ("Entre les murs") pode reflectir os problemas duma escola do secundário no nosso país. O colégio Françoise Dolto está situado num dos bairros mais problemáticos de Paris; os filhos do emigrante do Maghreb ou do Mali têm uma questão prévia com o seu meio de acolhimento: eles sentem que a atitude de "respeito e obediência" que, em relação aos professores, é exigida aos alunos em geral, se confunde com a submissão duma cultura que é, as mais das vezes, apenas simbólica. Antes de aprender a língua "estrangeira", têm de conquistar, contra os reflexos condicionados do colonizador, uma identidade, tanto mais problemática quanto se vêem reduzidos a forjá-la com o bric-à-brac da cultura de massas. Quando esses alunos são convidados a fazer o seu auto-retrato, não é a África mítica que os inspira, senão o rap e os símbolos da sociedade do consumo.

Ficamos, porém, com a dúvida se, no caso das "ovelhas negras" virem a ser todas excluídas, teríamos uma escola onde, na aula do professor François Martin (o actor, François Bégaudeau é o autor do livro que serviu de argumento) se podia aprender o francês.

Porque não é apenas a atitude dos alunos em geral que é o contrário da atenção e do interesse em qualquer outra coisa para além do toque da sineta que os libertará do constrangimento, é que a escola parece ter-se adaptado a esse tipo de escuta relutante, e aquele professor é, na verdade, um entertainer que fala de tudo e de nada a fim de espevitar uma atenção moribunda e onde está completamente ausente a ideia do trabalho de aprender.

Parece que o estudo da gramática e da sintaxe não é já importante para o conhecimento da língua e que ela se pode aprender através dum convívio forçado com o professor. Mas é claro que, naquela aula, o problema prioritário, que submerge todos os outros, é o da disciplina e que se chegar ao fim sem um acto de insubordinação o adulto já ganhou o dia.

Como apontamento final, aquele jogo de futebol entre alunos atléticos e professores desajeitados, com a gravata do reitor a esvoaçar no meio, é uma metáfora da demagogia reinante que à força quer confundir a escola com a sociedade política, onde não existe hierarquia e todos têm os mesmos direitos.

Aconteceu que na tarde em que vi o filme a sala estava esgotada com uma escola, talvez, da vizinhança, e apesar do bulício natural nada houve que assinalar, a não ser que, de vez em quando, se via a silhueta duma professora que se erguia para chamar um ou outro à ordem.


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