Há poucos anos, um jornal norte americano acusava o zapatista Marcos de ter trabalhado num bar gay em San Francisco. Marcos respondeu : Marcos é gay em San Francisco, negro da África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista em Espanha, palestiniano em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, rocker na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pòs guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfolio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas interiores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México...
A ideia de esquerda é hoje um produto exótico, cosmopolita e que o mercado domestica ao sabor das leis da oferta e da procura. Coisas da política, coisas da vida, imagens que ainda são pedras e não apenas o reflexo de si mesmas, tais como “revolução” e “revolta”. E desse enraizamento refrescado, cabe-nos partir racionalmente cépticos e voluntariamente entusiasmados para o movimento social, na embalagem da anti-globalização que surge e na embalagem dos conflitos quotidianos múltiplos que a esquerda política deve integrar no seu ideário.
O socialismo perdeu a teoria e a doutrina de acção. Ficou só com o sentimento, a retórica e meia dúzia de causas dispersas.
O capitalismo vende-se melhor. É por isso que digo que os dentífricos mais publicitados não são os que lavam os dentes melhor. Mas a verdade é que sempre se vendem mais. Berlusconi é um bom exemplo : uma pasta dentífrica que se vende bem. Acredito que o capitalismo moderno continua a não resolver o velho virus da desigualdade. A solidariedade não existe para com os que não tiveram a sorte de nascer do lado certo. Infelizmente muitos políticos e empresários adoptaram no passado uma prática de conluio imoral e ilícito em benefício próprio. A tragédia está no facto de políticos e empresários das novas gerações, com poder, também se terem dado conta que para eles essa forma de actuar também é mais conveniente. Infringindo as regras, conseguem as coisas mais rapidamente do que respeitando as regras.
É verdade que muitos portugueses estão desorientados com “as conversas da treta” que os fecharam ainda mais sobre si mesmos. Repetiu-se até ao fastio que o país estava de tanga. O resultado dessa propaganda é uma economia paralisada pelo medo. Veio depois a ideia de que em Portugal não se trabalha. Um código integral era a solução. Chega um economista de nomeada e alerta que, afinal, é a grande maioria dos empresários que não presta. Os mais afamados economistas reunidos chegam à conclusão de que em Portugal até se trabalha mais do que noutros países. Não sabemos é trabalhar. A televisão mostra que não faltam sinais de exibição de grande riqueza. A venda de carros de luxo está em alta. A grande maioria é que está cada vez mais em baixo.
O ano de 2008 vai ser dominado pela especulação financeira : no petróleo, nas matérias primas e nos produtos alimentares. O povo que trabalha não tem armas para combater os instrumentos do capitalismo. Sobreviver vai sair mais caro, os salários vão ter menos dinheiro. Este ano vai mostrar que sem a cultura do diálogo, sem a promoção da liberdade e justiça em cada país, sem uma nova ordem moral internacional, sem solidariedade económica e social, estão abertos os caminhos da precariedade e da conflitualidade.
(baseado em alguns textos do Público de autores diversos)
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