Henri Bergson |
“O universo é uma máquina de fazer deuses”
Henry Bergson
1. Antes de concluirmos, passemos, sumariamente, em revista o modo como alguns filósofos (no caso, Nigel Warburton), classificam e criticam os argumentos a favor da existência de Deus:
· Argumento da causa primeira ou argumento cosmológico: todas as coisas foram causadas por qualquer coisa que lhes é anterior. Se seguirmos esta série retrospectivamente, encontraremos uma causa original (Deus).
Crítica: e o que causou Deus? Por que razão os efeitos e as causas não poderiam constituir uma série sem fim a retroceder no tempo e a prolongar-se no futuro?
· Argumento do desígnio ou argumento teleológico (da palavra grega telos, que significa finalidade): se observarmos os seres vivos, não podemos deixar de notar como tudo é apropriado à função que desempenha; tudo mostra sinais de ter sido concebido, tal como, por analogia, um relógio teve que ser concebido por um relojoeiro.
Crítica: a teoria da evolução pela selecção natural, mostra que, pelo processo da sobrevivência do mais apto, os animais e as plantas melhor adaptados ao seu meio ambiente sobrevivem e transmitem os seus genes aos seus descendentes.
· Argumento ontológico (Ontologia: estudo do ser): Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar, como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. Ora, um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Logo, Deus existe necessariamente.
Crítica: acrescentar a existência como mais uma propriedade essencial de um ser perfeito é cometer o erro de tratar a existência como uma propriedade, em vez de a tratar como a condição de possibilidade para que qualquer coisa possa realmente ter uma propriedade qualquer.
Há ainda o argumento do “Boeing 747”, citado por Richard Dawkins, que se baseia numa alegada afirmação do famoso astrónomo Fred Hoyle, de que “a probabilidade de a vida ter tido origem na Terra não é maior do que a possibilidade de um furacão que varresse um parque de ferro-velho ter a sorte de montar um “Boeing 747”.
Crítica: Dawkins defende o “princípio antrópico” como solução, segundo o qual “a Terra deve ser o género de planeta capaz de nos gerar e sustentar, por mais invulgar e até mesmo único que esse planeta possa ser”. E o mesmo se aplica, com as devidas adaptações, ao universo…
2. A crítica filosófica aos principais argumentos a favor da existência de Deus, parece-me superior aos argumentos, salvo no caso do argumento da causa primeira ou argumento cosmológico, já que, a meu ver, não faz sentido perguntar, à maneira da física, o que causou Deus quando, por definição, se trata de uma causa não física, extranatural…Já o argumento do “Boeing 747” apenas defende a baixa probabilidade da emergência da vida na Terra (o que não inviabiliza que tal tenha acontecido, embora aponte para uma origem extraterrestre) e a sua crítica limita-se a concluir que se a vida existe no nosso planeta é porque o mesmo tem condições para isso (o que não prova que tenha tido origem nele).
CONTINUA
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