Manuel Joaquim
Acasos determinam muitas as vezes caminhos que não estavam previstos percorrer.
Uma aula de História a tratar o
tema da escravatura no Brasil; conheci Pedro Lobo, brasileiro, engenheiro, advogado,
professor, exímio desenhador e escritor, autor de um livro, “Um rio sem alma”, com
quinze histórias contadas por seu Pai, passadas na Amazónia, sua terra, para
memória dos seus e para quem as ler; conhecer o livro de Fabíola Pedras Mourthé
“O Percurso Intelectual de Raul Bopp”, sua tese de doutoramento sobre esta
personalidade, nascido nos finais do século XIX, considerado um escritor
viajante, que se interessou profundamente pela situação dos escravos, pelas
culturas marginalizadas, especialmente as dos negros e o seu papel na história
brasileira, pelo racismo e pela integração dos imigrantes japoneses e também
pelas correntes artísticas brasileiras, foi o introdutor da soja no Brasil.
Este conjunto de factos, todos
ligados ao Brasil, lavaram-me a consultar o livro “Escravidão”, de Laurentino
Gomes, historiador brasileiro muito conhecido pelas obras que publicou sobre a
corte portuguesa, 1808 e 1822 e sobre a independência do Brasil, 1889.
Vou servir-me deste livro para
dar a conhecer partes muito importantes sobre a escravatura, o Portugal e o
Brasil.
Ano de 1444 – Registo do primeiro
leilão de africanos escravizados em Portugal, diante do Infante D. Henrique, em
Lagos, no Algarve.
Ano de 1455 – O papa Nicolau V
autoriza os portugueses a escravizarem os infiéis entre Marrocos e a Índia.
Ano de 1492 – Construção do
Castelo de São Jorge da Mina, primeiro grande entreposto de tráfico de escravos
na costa de África.
Ano de 1494 – Tratado de
Tordesilhas, Portugal e Espanha dividem o mundo entre si.
Ano de 1496 – Judeus em Portugal
são obrigados a converterem-se ao cristianismo.
Ano de 1500 – 22 de Abril, Álvares Cabral chega ao Brasil, a Baía.
150.000 escravos comprados ou capturados em África pelos portugueses.
Ano de 1511 – Uma nau chega a
Portugal com 35 índios brasileiros cativos.
Ano de 1535 – Chegada dos
primeiros escravos africanos ao Brasil.
Ano de 1545 – Em São Vicente
cerca de três mil índios escravizados.
Ano de 1549 – Chegada dos
primeiros jesuítas ao Brasil.
Ano de 1630 – Jinga, rainha africana,
luta contra as tropas portuguesas em Angola.
Ano de 1687 – São Paulo tem mil e
quinhentos habitantes brancos e dez mil escravos indígenas.
Ano de 1700 – A população do
Brasil é estimada em trezentos mil habitantes.
As chamadas “portas de não retorno”,
antigos lugares de embarque de escravos existem em vários países africanos. A
mais famosa fica na Baía de cidade de Dacar, no Senegal. Foi visitada pelo papa
João Paulo II, por Obama, por Nelson Mandela, por Lula. Marcelo Rebelo de Sousa
passou pela cidade mas evitou passar pelo local. 12,5 milhões de pessoas foram
embarcadas nos navios negreiros.
Em 1830, cerca de 80% dos
escravos chegados ao Brasil eram originários das costas de Angola.
Em 1835 deu-se uma importante
insurreição africana no Brasil, a Chamada revolta do Malês.
Em 13 de Maio de 1888 foi abolida
formalmente a escravidão com a publicação de Lei Áurea.
O Brasil foi o maior território
escravista do hemisfério ocidental por quase três séculos e meio, tendo
recebido cerca de cinco milhões de africanos escravos, 40% do total dos 12,5
milhões embarcados para a América, sendo actualmente o segundo país de maior
população de origem africana do mundo. Estão recenseados 115 milhões de
pessoas, sendo apenas inferior à população da Nigéria. A escravidão foi uma
tragédia humana com repercussões na vida e na sociedade actual.
O Brasil foi o primeiro país a
reconhecer a independência de Angola em 11 de Novembro de 1975.
Ao longo de 350 anos entre 23
milhões e 24 milhões de pessoas foram arrancadas das suas famílias e locais em
todo o continente africano pelas engrenagens do tráfico negreiro. O oceâneo
Atlântico foi o grande cemitério de escravos. Quase dois milhões morreram
durante a travessia. Durante trezentos e cinquenta anos, todos os dias, em
média, eram atirados ao mar catorze cadáveres.
As crónicas de Gomes Eanes de
Azurara descrevem os leilões de escravos que se realizaram em Portugal e quem
eram os principais negreiros.
Aqui há uns tempos ouve uma
polémica sobre o Padrão dos Descobrimentos, que está em Lisboa, em Belém,
concebido pelo arquitecto Cottinelli Telmo e pelo escultor Leopoldo de Almeida
para a exposição do mundo português que se realizou em 1940, pensado em
homenagem do Infante D. Henrique. Mas essa polémica nunca foi suficientemente
esclarecida em virtude da comunicação social ter trancado a discussão.
Teria sido interessante
aprofundá-la para se saber se era o problema dos descobrimentos, ou se era a
figura do homenageado que estaria em causa, pois, pelo que se sabe, teve muito
pouca participação nos descobrimentos, não existiu nenhuma escola em Sagres,
mas foi o principal responsável pelo tráfego negreiro e seu direto
beneficiário.
Conhecendo-se a África e a sua
história, percebe-se melhor que em Portugal, nos anos 60 do século passado,
grupos de jovens liam e discutiam “Os Condenados da Terra”, de Frantz Fanon que
a Pide procurava desesperadamente.
Em 27 de Janeiro foi o "Dia
Internacional das Vitimas do Holocausto”. 77 anos passaram e é bom recordar.
Como é bom recordar as vítimas de Hiroshima, de Nagasaki, e as atrocidades
cometidas pela inquisição em Portugal, que só por vergonha foram aqui há uns
anos homenageadas em Lisboa junto à igreja de S. Domingos, num painel de parede
e com uma placa.
Temos de ser solidários com os
condenados da Terra e defender a PAZ e a Liberdade para sermos mais Felizes.
1 comentário:
Excelente resenha. Parabéns!
Enviar um comentário