Mário Martins
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Já se vê Vilar Jolie como, com algum desdém, lhe chamam os “portugas” de dentro, sabem lá eles o que passámos, se temos hoje um BêEme, uma casa de sete quartos na terra, confesso que não sabemos bem o que vamos fazer-lhe porque nem filhos, que têm a sua vida montada lá na França, nem netos, que já lá nasceram, querem vir, se temos um pé-de-meia no banco do que, dizem agora, era o dono disto tudo, quis Nosso Senhor e a Virgem Santíssima que eu não pertencesse ao grupo dos lesados do BES, também por isso não deixaremos, eu e a minha Esposa, de irmos a Fátima dar graças e de ser generosos com a Igreja e a Comissão de Festas da aldeia, e se temos, enfim, a expectativa de uma razoável retraite, tivemos que comer o pão que o diabo amassou, para além de aturar o chic de muitos messieurs e madames, é certo que, em compensação, não tivemos que aguentar o regime bolorento do Salazar, mas sobretudo os primeiros anos foram muito duros, a viver em casas de lata, sem mulher, num ambiente em que não só a língua era estranha, os “portugas” de dentro sabem lá, embora sofressem a ditadura, a pobreza e o atraso, tinham o conforto da língua e da tradição, a fronteira há muito que ficou para trás, faz muito calor e cheira a incêndio, mas já se divisa ao longe a nossa igreja, não é bonita oh! mulher? olá Ti Rosa, ainda se lembra de mim? então não havia de lembrar, és o Tono, e o Ti Jaquim, ainda é ele que puxa as cordas dos sinos da igreja? já não, coitado, tomara ele que o deixem, a viagem correu bem? venham cá lanchar, à tardinha está-se bem debaixo da ramada, os teus primos também já chegaram, sempre se arranjam aí umas rodelas de chouriço, broa e azeitonas e aquele tinto que tu conheces, não sei se era do vinho a escorrer, sanguíneo, pela malga e pela goela abaixo, mas que aquela música do tipo a que chamam pimba, vinda do lado da igreja, mexia comigo lá isso mexia:
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