Mário Faria
No arranque da campanha eleitoral perfilam-se dois posicionamentos que se digladiam com frenesim, embora não estejam distantes, ideologicamente: personalidades do centro-direita e personalidades do centro-esquerda trocam argumentos nas páginas dos jornais. Não falámos, pois, de perigosos radicais. Ou serão?
A TINA - “there is no alternative” – é a cartilha que prevalece na ordem política europeia, e que encontra nos escritos de Orwell a sustentação intelectual de que carece. Este diálogo, que abaixo transcrevo, é de dois homens que estão em total desacordo sobre a “realidade”, embora pertençam a famílias políticas que têm tudo para ser próximas. E não são. Ou serão?
Sob o título a “Realidade é de direita”, João Miguel Tavares (JMT) escreveu: “A política, pelo contrário, é uma espécie de mundo subatómico ou não-euclidiano, onde é bastante fácil a parte ser maior do que o todo ou dois objectos. estarem em simultâneo no mesmo local …. É preciso uma luta constante para vermos o que está em frente do nosso nariz … Os idiotas portugueses passam o tempo todo a negar o óbvio”.
José Pacheco Pereira (JPP) a propósito deste artigo, escreveu: “… aqueles que só conhecem o nome e o título do livro, entendeu que se chegou ao fim da história e o fim da história é aquilo a que chamam realidade. Uma espécie de muro existente na física das sociedades e das nações contra o qual se vai inevitavelmente quando se abandona o caminho da austeridade e se encontra a TINA. Uma ideia a modos que como a lei da gravidade”.
JMT respondeu: “A querer estabelecer opostos, opte-se por ricos vs. classe média, porque os verdadeiros pobres são os que morrem silenciosamente no Mediterrâneo, a tentar chegar à Europa de todas as crises. Esquecemo-nos demasiadas vezes disso … Pacheco é mais um dos “revolucionários do status quo”: tem um discurso muito radical sobre o nosso presente, clamando por grandes mudanças – só que, ao contrário do revolucionário tradicional, o objectivo de tanto esforço não é chegar aos amanhãs que cantam, mas recuperar os ontens que cantam …. Esta posição parece racional e está aparentemente do lado dos desfavorecidos contra os privilegiados, mas tem um problema inultrapassável: não se pode pôr em prática em países brutalmente endividados, que precisam do capitalismo que hoje existe, seja bom ou mau, para pagar as suas contas”.
JPP rematou, embora a discussão prometa continuar: “É que, contrariamente ao que pensam, na questão grega, a realidade impôs-se à “realidade” e fez a história mover-se quando eles a queriam fixar no ponto ideal do seu poder. Sem eles as verem, a não ser na sua na sua agenda punitiva, as coisas estão a mudar e como sempre aconteceu na história mudam sob a forma de surpresas. Não, a “realidade” não é a história acabada num certo modelo de economia, sociedade e poder. Bem pelo contrário, está a mover-se e mais depressa do que imaginam e não é para o lado da “realidade”. É para o lado de que há “alternativas”.
Esta forma preguiçosa de participar na revista, carece de um fecho que siga a mesma linha, aproveitando um comentário que não é de minha autoria e cito de cor: “… agora percebemos perfeitamente que o capitalismo nunca foi liberal. A crise grega mostrou-nos claramente até que ponto se deu a integração e a subordinação do Estado à lógica financeira: o Estado age por conta dos credores e das suas instituições supranacionais…”.
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