Mário Martins
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40 anos depois de o historiador Jean Elleinstein, então membro do Partido Comunista Francês e Director adjunto do Centro de Estudos e de Pesquisas Marxistas, ter acordado as esquerdas de matriz marxista do Ocidente para as "sombras" do sistema soviético, com as suas"História da URSS" e "História do Fenómeno Estaliniano", (apesar de, nessas obras, afirmar crer "que o sistema socialista é infinitamente superior ao sistema capitalista" e "que o fenómeno estaliniano se explica pelas condições históricas da primeira revolução socialista da história e é um acidente do comunismo, e não um seu produto natural e, portanto, inevitável"), é a vez de uma jovem marxista, Mylène Gaulard, professora na Universidade de Grenoble, causar polémica no país do Iluminismo com o livro "Karl Marx em Pequim – As raízes da crise na China capitalista", que desenvolve a sua tese de doutoramento, segundo a qual "a China é plenamente capitalista".
A autora ilustra a sua tese afirmando, por exemplo, que "éinegável que um país no qual o salariado continua em vigor, separando os trabalhadores e os seus meios de produção, e no qual se encoraja um processo de produção baseado nesse salariado e no fosso crescente entre o valor gerado pelo trabalho e a remuneração deste, um tal país somente pode ser analisado como capitalista"; que a participação do Estado no PIB, que era de 31,2% em l978 caiu para 18% em 2012; que a participação das empresas estatais na produção industrial, que atingia 80% em 1979, não ultrapassava 35% em 2012; que apesar de a pobreza ter diminuído, a desigualdade social aumenta em vez de decrescer (a maioria dos bens de consumo duráveis só sãoacessíveis a 100 milhões de pessoas, numa população total de 1300 ou 1400 milhões, e somente os EUA têm hoje mais bilionários, alguns membros do Comité Central do Partido).
Mylène Gaulard vê a China cada vez mais integrada no sistema global do capitalismo, onde "nada ocorre por acaso e menos ainda pela livre vontade dos indivíduos ou dos Estados", e está convicta que a crise actual "somente pode desembocar num aprofundamento nocivo e nefasto, com a perspectiva de um encadeamento de ciclos mundiais de crises económicas e de guerras cada vez mais destruidoras, as únicas capazes de regenerar o capitalismo (…)"
A sua conclusão é utópica: um "movimento que um dia conduziria à instauração da verdadeira comunidade humana (…)".
Embora o comunismo esteja fora de moda, estas teses, porque respeitam directamente a 1/5 da humanidade e indirectamente ao mundo todo, colocam uma mão cheia de questões. Tentaremos abordá-las em próxima ocasião.
PS: Como não li o livro, este texto transcreve livremente, com a devida vénia, passos do artigo do jornalista e escritor Miguel Urbano Rodrigues, que mão amiga me fez chegar.
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