No âmbito da cruzada McCarthista dos anos cinquenta, foi criado um comité de investigação especificamente dirigido às "histórias aos quadradinhos" ("comic books"), para supostamente prevenir o comportamento violento ou criminoso entre a juventude.
Este período negro da história dos EUA oferece-nos, com a censura dos "comic books", um exemplo quase irreal de supressão da liberdade em nome dos bons costumes ou da segurança. Na altura foi chamado a testemunhar um psiquiatra nascido na Alemanha, chamado Frederic Wertham que, além de ganhar publicidade para o seu livro "Seduction of the Innocent", culpou as "histórias aos quadradinhos" de "encorajar o crime, a licenciosidade e o comportamento violento" nas crianças americanas (William Earnest), chegando ao ponto de ver nelas uma instigação à homossexualidade através da aparência e do comportamento dos seus heróis.
O perigo comunista, como se vê, abriu a porta a outros fantasmas, mas não nos podemos admirar que a formação das crianças e o seu doutrinamento sejam considerados cruciais em qualquer utopia política ou demência do poder.
Contrasta esta preocupação pelo futuro, mesmo se justifica tantas vezes os meios mais condenáveis, com o estado da educação nalguns países desenvolvidos e, sobretudo, naqueles onde grassa o famigerado "eduquês". Porque as crianças, na ausência de qualquer ideia positiva sobre a tarefa de educá-las, são simplesmente entretidas e convidadas a exprimir o que ainda não podem ser.
Não é, talvez, por maquiavelismo que esses pedagogos preparam, de facto, um futuro de consumidores sem outros problemas que não os de escolher entre marcas e modelos, como num teste americano.
Comparados com esta indústria de jogos em que se converteu o ensino, qualquer doutrina parece um progresso. Sobretudo, como disse Guilherme Martins no outro dia na televisão, quando com a doutrina (que sempre se pode deitar fora) se oferece a ferramenta para pensar.
Sem comentários:
Enviar um comentário