Em Junho as casas crescem como os dias, temperatura e luz esbatem a antinomia entre dentro e fora, tem início o esplendor dos pátios, a porta de casa é uma fronteira menos nítida, a Afurada parece uma ilha quando desembarcamos do Flor do Gás após uma travessia rápida e certeira, guiada a 1 euro por mão experiente e rosto tisnado, a unir as duas margens ali onde o rio acaba e o mar começa e o Porto de vista não parece o mesmo, o eventual fado dos gloriosos discos pedidos pelos senhores ouvintes para a minha querida esposa ou marido que faz anos hoje filhos e netinhos às vezes noras e genros e até sogros dá um toque nostálgico ao voo das gaivotas, os fogareiros a carvão nos passeios das ruas e os sapatos ou chinelos nas soleiras das portas confundem público e privado e o penetrante odor da sardinha assada invade o olfacto e torna incontornável o banco da taberna, de regresso ao velho burgo às tardinhas os cheiros do estio marcam muros antigos e anunciam os santos populares que recobrem primordiais ritos pagãos fazendo lembrar os tempos menineiros das cascatas e da noite de S. João onde todos os caminhos iam dar à baixa e às Fontainhas e imperava o alho-porro na corte de aromas da alfazema da cidreira do manjerico, ainda agora nessa noite única se podem ver moradores da Vitória ali à beira da soberba vista sobre o bairro da Sé a jantarem ou petiscarem na rua às portas das suas casas sob um céu sãojoanino, parafraseando Jorge de Sena o sentimento de Junho não consome não custa dinheiro, é o Princípio de Verão cantado por Sofia Largos longos doces horizontes/A desdobrada luz ao fim da tarde/Um ar de praia nas ruas da cidade/Secreto sabor a rosa e nardo arde.
01/07/10
JUNHO
Mário Martins
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