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Num contexto de profunda crise do capitalismo global e do seu programa de financeirização e de mercantilização de toda a vida humana, assiste-se a um enfraquecimento da democracia em função da sensível falta de correspondência entre a representação política e as clivagens sociais.
A Europa que parecia poder funcionar como uma defesa dos países menos ricos que fazem parte da UE, em situações de emergência como acontece na presente crise, mostrou a sua falta de coesão. Manda quem pode, obedece quem precisa.
A Europa vive sobressaltada pelo fantasma do Pacto de Estabilidade, qual camisa de forças que neutraliza todo e qualquer esforço de revitalização económica. O (re) equilíbrio das contas públicas tem prioridade máxima, sob os auspícios de Merkel e das empresas de rating. A economia definhará em quase todo o espaço europeu, a olhos vistos nos mercados em maior dificuldade : as empresas despedirão e reduzirão custos até ao limite e as pessoas contarão os tostões, sob a ameaça de desemprego.
Uma política orçamental de regresso ao equilíbrio, que o Euro exige para se manter forte e moeda de referência, produzirá danos colaterais, incluindo no plano das finanças públicas, porque destruirá mais receitas fiscais do que reduzirá as despesas.
A actual geração de economistas, de direita ou da esquerda convertida, já ditaram a sentença. Há que apertar o cinto, até doer. Sabem ler os números , mas esquecem frequentemente que isso é um meio e não um fim. Apesar do reconhecimento da asfixia política em função da ditadura económica, não basta a um putativo candidato à PR dizer frases deste teor, em pré-campanha. Tem de se exigir mais.
Não há espaço para a revolução e o espaço de intervenção é reduzido. Aliás, o Manuel deve sabê-lo bem, pois alegremente apoiou as políticas do FMI para salvar Portugal da ruína e da deriva colectivista animada pela sanha das nacionalizações, quando foi companheiro do amigo Mário Soares.
Pois é : depois da ressaca vem sempre mais ressaca. Estamos a viver no império da ressaca, a caminho da pobreza e da rendição total. Porém, quando todos reduzem a crise do país à "natureza malévola de Sócrates", algo vai mal no reino, porque o problema está a montante. E tem a ver com o regime e com a incapacidade de regular o sistema capitalista que pouco muda e raramente se transforma. Acompanha os avanços tecnológicos, muda de cosméticos e, se for necessário, sujeita-se a algumas operações para melhorar a imagem. Made in USA, surge a ideia de abandonar o termo "capitalismo" enquanto definidor do sistema dominante, substituindo-o por "sociedade de livre empreendorismo". Redundante, mas lindo!
A esquerda resiste. E esse mérito não lhe pode ser retirado, pois há muitos homens e mulheres que dão o melhor de si em defesa duma sociedade mais justa. Reconhecendo a enorme dificuldade de agir no actual quadro político, sinto que há barulho a mais, ideias a menos e acordos com a direita oportunistas que me deixam à beira de um ataque de nervos. São os efeitos da ressaca.
1 comentário:
Se a escravatura fopi sendo abolida a partir do século XVIII, hoje estamos a viver outro tipo de escravatura e ninguem diz nada. Aliás pensa-se que as pessoas têm medo do termo, e o caso não é para menos. Mas hoje, alguém terá que tomar a dianteira e dizer que o rei vai nú. Esta obcessão pelo controlo do défice teria alguma razão de ser se se começasse a cortar na despesa pública e a rentabilizar os meios existentes. Cortando na despesa pública seria tão fácil se as pessoas quisessem mesmo. Começava-se pelo Palácio de Belém e conseguiam-se cortes de vários milhões. Nos Palácios de S. Bento seria a mesma coisa. E no Terreiro do Paço muita coisa também se podia cortar. Rentabilizam-se alguns activos improdutivos como sejam os malfadados submarinos que se vendiam já, como se vendiam também os F16 encaixotados que valem uma pipa de massa, vendiam-se os PUMAS que estão encostados, combatia-se, mas combatia-se mesmo, a economia paralela para que a produtividade passasse a ser real, punha-se Alqueva a regar o Alentejo e criava-se o maior centro abastecedor de frescos da e para a Europa, explorava-se convenientemente a nossa ZEE, a maior da UE, abastecia-se a Europa de tudo o que fosse peixe e a balança de pagamentos equilibrava-se por ela própria.
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