António Mesquita
"We must humanize technology before it dehumanizes us"
Martin Buber
Pode a tecnologia ser humanizada? Ou colocando a questão ao contrário: pode a nossa natureza ser transformada pela tecnologia?
Hannah Arendt diz, por exemplo, que uma mudança de natureza é uma contradição nos termos, porque atingir a natureza duma coisa significa destruí-la. E diz mais que a própria concepção de uma mudança da natureza do homem ou do quer que seja "é um sintoma do desmoronamento intelectual da civilização ocidental." ("The origins of totalitarianism").
Claro que na ideia aqui em causa está implícita uma vontade, um projecto para a "fabricação do género humano" (Sylvie Courtine-Denamy). A desumanização que a tecnologia pode trazer consigo, por outro lado, é sofrida pelos homens como um efeito colateral da satisfação das suas necessidades (naturais ou artificiais).
A tecnologia é sempre um poder que pode ser usado para o bem e para o mal. A diferença, nos nossos dias, está na escala desse poder e na medida em que o uso da tecnologia nos pode condicionar (por exemplo, a limitação da liberdade para garantir a segurança do nuclear).
Se não podemos mudar de natureza, podemos então ter entrado num processo de auto-destruição, do qual só nos aperceberemos demasiado tarde (se é que o poder da tecnologia pode ser limitado).
Como sempre, a imprevisibilidade é a lei das nossas vidas. Só a história poderá arriscar, retrospectivamente, uma explicação e a identificação do "ponto de viragem". Mas quando é que os Romanos entraram em decadência? Alguém pode dizer a partir de que conquista a república estava perdida ou a tara cesariana que fez descambar o império?
Esta é, contudo, uma hipótese inspirada na física do calor: o grau que leva a água à ebulição. Mas não é assim que as coisas se passam.
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