A Terra é o pontinho à direita da fotografia tirada pela sonda Cassini em 2006
"Ou estamos sozinhos no Universo, ou não estamos. Qualquer uma dessas hipóteses é assustadora."
Arthur C. Clarke
Vista da Lua, a cerca de 400.000 quilómetros de distância, a Terra é uma Lua grande (uma vez que o seu tamanho é quatro vezes o do nosso satélite), mas visto de Saturno, que fica a uns 1.300 milhões de quilómetros, ainda assim muito para cá de Neptuno ou Plutão, a 5 ou 6.000 milhões de quilómetros, o nosso planeta não é mais do que um pontinho azul.
É nesse pontinho azul que a humanidade, há muitos milhares de anos, geração após geração, época após época, vive o seu fado existencial, entregue a si própria, sem ter com quem falar. Bem temos procurado, de modo sistemático, com poderosos radiotelescópios, sinais de vida inteligente no "éter" galáctico, mas até agora, nada.
Não que não se tenham descoberto já 208 exoplanetas (planetas que orbitam em torno de uma estrela fora do nosso sistema solar), o último dos quais, do tamanho de Júpiter, a 650 anos-luz, mas ou são gigantes gasosos, ou superterras quentes, ou gigantes gelados, todos sem características típicas para a existência de vida, tal como a conhecemos. Por isso, a Nasa acaba de enviar para o espaço o telescópio Kepler, com o objectivo de nos próximos 3 a 5 anos identificar planetas parecidos com o nosso e com uma orbita similar à volta de estrelas "solares".
A hipótese de existirem outros seres inteligentes na nossa galáxia e no universo é, evidentemente, mais provável do que a de estarmos sozinhos. Basta atentar nas espantosas escalas galácticas. No entanto, o limite da velocidade da luz (300.000 km/segundo) imposto à comunicação entre civilizações eventualmente separadas por milhares ou milhões de anos-luz (ano-luz = distância percorrida pela luz no período de um ano), pode explicar a ausência de sinais e de contacto.
Apesar disso, um dia pode muito bem acontecer, como em "Contacto", o livro (que deu filme) de Carl Sagan, que detectemos um sinal. Aí começariam os problemas: desde logo, os governos divulgariam o sinal? E como reagiriam as pessoas? E as religiões? E quem nos representaria, o Secretário Geral das Nações Unidas ou o Presidente dos EUA? Imaginando a hipótese, mais simples, de o sinal provir da área orbital da estrela mais próxima de nós, a Próxima Centauro, "apenas" a 4,3 anos-luz, e de o sinal ter sido emitido recentemente, isto é, há 4,3 anos, e não há milhares ou milhões de anos, (sinal antigo que, por qualquer razão, os radiotelescópios não teriam ainda identificado), será possível o contacto, quer dizer, será possível a comunicação? Tal não é seguro, uma vez que, como os cientistas gostam de dizer, nós só conhecemos a vida que conhecemos, pelo que é possível que outros seres inteligentes sejam fisicamente diferentes de nós, e culturalmente sê-lo-ão de certeza; de qualquer modo, se for possível o uso de uma linguagem comum, não é óbvio que a conversa corra bem, porque se extrapolamos a probabilidade de existência de vida inteligente extraterrestre a partir da nossa realidade, também é razoável extrapolar o nosso carácter dominador, individual e colectivo, para outros seres; isso significaria uma avaliação mútua de forças (ou dos respectivos estádios evolutivos) e, no melhor dos casos, uma coexistência pacífica; de todo o modo, a enorme distância colocaria a humanidade em respeito uma vez que não teríamos tecnologia para lá chegar em tempo útil, se um confronto se verificasse nos tempos mais próximos.
E se, contra toda a lógica, estamos, de facto, sozinhos? Julgo que é praticamente impossível sabê-lo, tendo em conta a vastidão do universo. De toda a maneira, se o soubéssemos, isso não significaria que estivemos sempre sozinhos (poderiam ter existido civilizações que entretanto se extinguiram) ou que estaremos sempre sozinhos (outras civilizações poderão estar ou vir a formar-se).
Como afirmou Arthur C. Clarke, o famoso autor de ficção científica, ambas as hipóteses são assustadoras. Um eventual contacto com seres inteligentes de outra espécie não será a mesma coisa que um encontro entre grupos humanos em diferentes estádios civilizacionais. Mas eu direi, simplesmente, que, à partida, é sempre bom termos com quem conversar.
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