01/08/08
BUDAPESTE: UMA VIAGEM INESQUECÍVEL
Fui de visita a Budapeste. Correu tudo muito bem, até à véspera do meu regresso. Aquilo que tinham sido pequenos detalhes sobre a forma como éramos tratados, acabou por desaguar numa mini comédia dramática, naquele dia em que resolvemos visitar o Parque das Estátuas.
Tomámos um táxi junto do hotel. O taxista era simpático e falámos um pouco. O trivial. Comentei que achava caro o nível de vida em Budapeste. Não concordou comigo. Depois deste cordial desacordo, decidimo-nos pelo silêncio.Terminada a viagem – uma pequena corrida duns 3 kms – o taxímetro marcava 4.500 Florints, qualquer coisa como € 19,00, a verba que tinha pago de minha casa ao Aeroporto, para percorrer uns 14 kms. Perguntei-lhe : tão caro ? e o tipo apontou-me para a tarifa e para o taxímetro. Está tudo em ordem, repetiu. Lá paguei, que remédio.
Como já não tinha muita moeda local, resolvi levantar 10.000 Florints. Da máquina saiu apenas uma nota daquela importância. Recolhi o dinheiro e o recibo e quando me preparava para alojar a nota na carteira, uma mão super-rápida tirou-me a nota da mão e perante a minha estupefacção e paralisação momentânea, o homem desapareceu no meio de uma multidão que se juntava numa feira de artesanato, próxima da qual me encontrava. Pior que estragado, lá levantei outra vez 10.000 Florints para pagar a visita a que me propunha.
Esta segunda operação ocorreu normalmente. Como das outras vezes, a máquina pagou-me a quantia pedida com uma única nota. Foi sempre assim, sem excepção. Procurámos o local da saída – o parque das Estátuas fica fora de Buda, aí uns 10 ou 12 quilómetros - encontrámos o autocarro, entrámos, sentamo-nos e passado alguns momentos a menina veio cobrar os bilhetes – 3975 Florints pela entrada e a deslocação. Paguei, deu-me o troco, mas mal virou as costas conclui que se tinha enganado e me tinha dado menos 1.500 Florints. Chamei-a, mostrei o dinheiro que me tinha entregue e anuiu em dar o que faltava. Deu-me una nota de mil e outra de quinhentos, esta rasgada, mas com a fita cola ficava bem disfarçada.
A viagem correu sem incidentes. Lá chegámos ao parque das Estátuas. Um local seco, poeirento e feio, próximo de uma pequena localidade, sem nada que a recomendasse. Muito calor, pouca sombra. Na entrada a escultura da bota que tinha “sobrado” da estátua de Stalini, destruída em plena crise de 1956. À direita um armazém que mais parecia tirado dos campos de concentração e depois o parque onde estavam espalhadas todas as esculturas que tivessem a ver com figuras ou ícones do antigo regime. Tudo espalhado sem critério aparente. Algumas esculturas bem mais interessantes que outras, mas todas identificadoras de um determinado momento histórico. Tudo num ambiente árido, inóspito e pouco cómodo para os visitantes. O ambiente pouco apelativo não ajudava a uma prospecção mais atenta. A literatura sobre as estátuas e esculturas era escassa e pouco legível. Acabada esta visita, fomos averiguar o que se passava no “barracão”. Eram filmes dos trabalhos dos serviços de informação húngara. A Pide lá do sítio. Nenhuma novidade na abordagem e recrutamento de bufas e na espionagem de suspeitos. Os filmes denotavam uma grande ingenuidade e os polícias maus pareciam tomados por uma bonomia muito suspeita. De bom, é que era o único local fresco e pude descansar e até adormecer um pouco. Tratava-se de uma sessão contínua e do que perdi não sinto saudade.
Saído daquele campo de concentração cultural onde os húngaros esconderam os vestígios históricos do passado recente, regressei a Budapeste. Resolvemos tomar o metro para chegar ao hotel, sabendo que tínhamos um “transfer” pelo meio. Comprámos os bilhetes mas a rapariga que cobrava não me aceitou a nota com a fita cola, apesar dos meus protestos e de lhe ter dito que a tinha recebido de troco no Parque das Estátuas. Não me deu os bilhetes enquanto não lhe dei outra nota. Rapariga simpática.
Na entrada da estação vi muita gente de braçadeira, com a palavra inscrita : “control”. Entrei, revisei o bilhete, saí na estação certinha e encaminhei-me para o cais para seguir para o local de destino, quando fui apanhado por uma rapariga doutro “control” que não me deixou entrar, perante a minha estupefacção. Juntou-se a esta mais duas raparigas daquele “control” e uma lá me disse que tinha acabado de praticar uma grave falta e que tinha de ser penalizado por isso. De nada valeram os meus protestos e justificações. Tinha de pagar de multa 18.000 Florints (ou 90€) de imediato ou seria levado à polícia e apenas libertado se pagasse o dobro. A mulher era muito dura e contrastava com a bonomia dos antigos inspectores, que tinha acabado de ver no barracão do Parque das Estátuas. Tentei explicar. Não se comoveu, endureceu o tom, demasiado ameaçador para a falta cometida, e já se preparava para me entregar às autoridades quando a mais boazinha interveio a pôr água na fervura. Acalmamos todos e lá paguei os € 90€. O câmbio que aplicaram, permitiu-lhes um extra de cerca de 20€. Podia ter sido pior. Permitiram-nos tomar o metro e seguir para o hotel.
À noite, para despedida, demos um passeio pelo Danúbio, com direito a jantar e a canções líricas. O jantar : um bufet de plástico intragável. As canções apresentadas tinham bolor e as cantoras, autênticos dinossauros, apresentaram-se com velhos vestidos a cheirar a mofo. Entre uns gritos de bis e de bravos, programados, chegamos a bom porto. Não foi mau. A voltinha correu sem incidentes, sem furos, sem suicídios, sem rapariguinhas ou velhinhas de um qualquer “control” aquático e sem direito a multa.
De regresso a Portugal, e como prémio de despedida, estivemos duas horas no check in, porque a moça não conseguia validar (marcar) a viagem de Lisboa para o Porto. Enfim, uma viagem com um fim inesquecível.
A DIREITA É MAIS TÍMIDA
O Jornal de Negócios, do passado dia 16 de Julho, publicou uma entrevista com o Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, Francisco Van Zeller, apresentado como o patrão da industria, sobre o novo Código do Trabalho, com chamada de primeira página e com duas páginas centrais, que é muito importante para caracterizar o momento que atravessamos e alguns dos interventores.
Quando o patrão dos patrões diz que “felizmente temos um José Sócrates” e que “Vieira da Silva fez melhor do que um governo de direita” e que “o Código do Trabalho devia ir mais longe nos despedimentos” é suficientemente claro que quem perdeu com esta iniciativa do governo do Partido Socialista foram os trabalhadores em geral.
Refere que “não tem duvida nenhuma de que o novo CT melhora as condições de produtividade através da caducidade dos contratos, do artigo 4º (que permite negociar os artigos do código para melhor e para pior) e a organização do tempo de trabalho “ ou seja, algumas das grandes conquistas do patronato.
Em reforço do afirmado, sobre a adaptabilidade grupal e os horários concentrados poderem ser negociados individualmente, declara que “foi uma vitória nossa sem dúvida nenhuma” (do patronato). E sobre o tal “banco de horas”, inserido no chamado mecanismo da flexibilidade, diz que “no fundo é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais duas horas além dos horários passa a ser regular”.
Mais adiante diz que “os governos de direita são mais tímidos no que respeita a relações de trabalho” e que, no que respeita a negociações colectivas, “na maior parte dos casos podemos recorrer à UGT e, se conseguirmos contratos vantajosos, contar com a adesão individual”.
Tudo o que atrás é referido pode ser confirmado na edição do referido jornal.
Serão necessários mais factos para deixarmos de ter dúvidas de que toda a campanha de esclarecimento, de denúncia e de luta desenvolvida pela CGTP estava e está certa, naturalmente, na perspectiva dos trabalhadores?
Quando o patrão dos patrões diz que podem recorrer à UGT e aos sindicatos da UGT que papel desempenha esta organização? Não será esta afirmação uma confirmação de que a UGT é uma correia de transmissão do Partido Socialista e dos restantes partidos da direita e que está especialmente ao serviço do patronato e do grande capital? O que mais é preciso dizer para o demonstrar?
Alguns sindicatos representativos, que efectivamente defendem os trabalhadores, continuam filiados na UGT, como é o caso do SINAPSA, cuja adesão, na época, foi legalmente muito polémica.
A prática sindical da UGT, desde a sua fundação, foi sempre a de provocar a divisão das organizações sindicais, fragilizar as suas legítimas lutas, estar ao serviço do patronato, como agora é claramente confirmado pelo presidente da CIP.
Não será a altura de os sindicatos sérios, como é o caso do SINAPSA, deixarem de financiar esta organização inimiga dos trabalhadores, dirigida por traidores, que contribui fortemente para a exploração dos trabalhadores portugueses pelo grande capital?
NÃO SABER O QUE SE DIZ
"O senhor conhece um homem quando sabe que ele não sabe o que diz."
"O Senhor Teste" (Paul Valéry)
O importante não é este saber de quem escuta o outro "desarrazoar" (mas pode-se, certamente, ser racional não sabendo o que se diz).
É antes, como diriam alguns linguistas, vê-lo a falar contra o código da língua ou da especialidade de que fala.
Porque um homem que sabe o que diz (e até que ponto pode sabê-lo?) é como um terminal da razão universal ou dum saber codificado. O que há de pessoal nisso está no corpo e na modulação do que diz. Mas o outro revela na sua impertinência, ou na sua confusão, um corpo "doutrinário" (Michaux dizia que, neste século, o falo se tornou doutrinário).
Claro que há uma enorme pretensão naquela frase, porque um homem que cai fora do senso, é capturado, na nossa época, pelo discurso da anormalidade psíquica.
Embora muitas vezes falemos do que não sabemos (é muito vulgar na conversação e no convívio), sabemos, quase sempre, o que dizemos.
O senhor Teste não está a pensar no psiquiatra, o qual de facto não conhece o seu homem, mas em alguém que apanhou o outro em falta. É esse, então, um "saber" moral?
Pode ser indecente, mas é muito revelador não se saber o que se diz. Ainda assim, não se deveria falar em conhecimento.
O senhor Teste diz ainda que não sabe o que é a consciência dos tolos ( e que a dos homens de espírito está cheia de tolices), sugerindo que apesar de não saber o que é, os conhece (aos tolos), visto que também eles não sabem o que dizem.
O que me leva a concluir que esse conhecimento talvez seja do tipo do conhecimento bíblico...
SOBRETUDO..., OS POETAS
Não é de hoje que nutro admiração pelos Homens que dedicam o seu tempo, ao estudo, à reflexão, ao conhecimento da vida humana, das práticas, das atitudes dos quadros mentais das sociedades que condicionaram e promoveram a evolução da humanidade. Entre os filósofos e os historiadores a minha preferência vai para os últimos, pois as suas apreciações são mais factuais, mais objectivas, talvez mais despidas de complexidade e porque conseguem, olhando para o passado, antecipar o futuro. Contudo, entre esses seres humanos que olham para a vida, sem dúvida que os poetas se destacam pela lucidez com que transportam o acto humano para o jogo das palavras e da forma acutilante com que descrevem as epopeias humanas. Entre os poetas de língua portuguesa, Miguel Torga foi um vulto grande da palavra em verso. Nascido na rudeza do território nordestino, entre fragas agrestes que suportam o rigor do Inverno e o sol escaldante do Verão, entre o isolamento e a grandeza de uma paisagem que derrete os olhos humanos perante o espanto de tanta beleza, o poeta médico habituou-se a perscrutar a vida humana das alturas desses penhascos que chegam a provocar arrepios na altivez com que desafiam as nuvens. Entre a inúmera e magnífica obra que nos deixou, Miguel Torga legou-nos um Depoimento sobre a vida, generosa, nobre e heróica dos Homens no seu combate pela dignidade.
“De seguro, posso apenas dizer que havia um muro”. E que muralha, poderão dizer todos esses homens e mulheres que caminhando pela vida tiveram de assaltar o futuro onde poderes, tantas vezes ocultos, tantas vezes sangrentos, lhes foram semeando o quotidiano de escolhos, de armadilhas, de indignidade, atraindo-os para uma vivência de servos, sem direitos, sem os mais básicos elementos de sobrevivência.
“Não, nunca o contornei, nem o tentei ultrapassar de qualquer maneira”. E também aqui nos incentiva a caminhar erectos, pese embora a magnitude do muro a vencer. Também aqui, nos indica o caminho onde os seres humanos hão-de encontrar a verdadeira resposta e não a mais fácil, a mais acessível. Os muros, esses muros que encontramos no caminho da humanidade, destroem-se, arrasam-se pedra a pedra, não se contornam nem se ultrapassam. A dignidade e a nobreza dos actos humanos hão-de surgir nesses instantes em que o muro parece intransponível. Estes muros, derrubam-se com sonhos, com ideais, com valores, com a grandeza dos gestos singulares e com a nobreza dos sentimentos colectivos.
“A honra era lutar, sem esperança de vencer”. Insiste ainda, Torga nesse exaltar dessa decência que o Homem devia incorporar em cada instante em que percorre os rios da vida. Que nobreza, lutar sem esperança de vencer, apenas em nome de algo que está para além de nós, que se visiona num futuro que não alcançaremos, que apenas podemos construir com a legitimidade e a razão dos nossos sonhos, com a vontade de ideais concebidos por todo o passado humano e que se projectam para diante.
“E lutei ferozmente, noite e dia”. Sem desânimo, diz-nos, apesar do fim que já se adivinha. Com persistência perante aquele muro colossal que os senhores do mundo erguem perante a humanidade, mas que não se iludam que não há desistências, que não há derrotados, a cada um que cai outro se ergue, ferozmente, noite e dia como nos indica o poeta.
“Apesar de saber que quanto mais lutava, mais perdia e mais funda sentia a dor de me perder”. É o heroísmo final, essa grandiosidade que só os Homens convictos da razão conseguem alcançar, sem desfalecimento, sem temor, sem a cobrança de valor algum, lutar apenas para projectar ao chão esse muro tremendo que todos os dias nos vigia, nos cerca nos condiciona nos pretende cercear a liberdade. Neste seu Depoimento, Miguel Torga, constrói o hino a tudo o que belo. Sentimos neste cântico das palavras poéticas, esse murmurar da história, esses antepassados pré-históricos na sombra das cavernas, as invenções que se abriam à mente humana no desbravar da vida, essas cavalgadas pela terra e pelo mar, esse olhar para o universo na contagem das estrelas e nesse projectar dos sonhos num voo infinito. Encontramos neste poema tudo o que de maior valor podemos descobrir na alma humana. Torga viu-o do alto das rochas que dominam a paisagem do seu espaço natalício e deixou-o gravado na mente dos Homens seus companheiros da vida para que não se iludam e não se esqueçam que a caminhada da humanidade, mesmo perante as adversidades, não deve esquecer os momentos de grandeza e de honra, esse valor sem o qual, o muro será ainda maior e todo o gesto humano, não será mais do que um mero marco de sujidade a manchar a beleza da paisagem. Torga sabia-o e deixou-o o escrito para lembrança dos Homens.
A TENTAÇÃO NUCLEAR (*)
A actual crise do petróleo está a provocar graves problemas económicos e sociais e a desorientar o mundo político, mas a impressionante subida do seu preço torna economicamente lógica a aposta no desenvolvimento das energias alternativas, renováveis e limpas e, por essa via, constitui uma possibilidade real de gradual diminuição da poluição humana do planeta.
No entanto, não se pode escamotear que, a par disso, a tentação nuclear ganha um novo fôlego. Procurarei, a seguir, alinhar alguns prós e contras, bem como incógnitas da exploração da energia nuclear, como se o debate nacional que alguns analistas consideram necessário e inevitável já tivesse começado…
Prós:
- Diminui a dependência energética.
- Emite menos CO2 do que as centrais a combustíveis fósseis 1.
- Abre vias para a produção de hidrogénio.
- Incentiva a construção de centrais hidráulicas de bombagem, utilizando a electricidade excedentária.
- Desenvolve competências e dá-nos experiência para a evolução nuclear esperada (novos reactores e fusão 2).
- Aproveita as nossas reservas de urânio.
- Incrementa o sector produtivo e cria emprego.
- Já sofremos os impactos ambientais e os riscos das centrais nucleares espanholas.
- Estatísticas do período de 1970 a 1992 referem que o número de mortes imediatas provocadas por acidentes no uso do gás natural como fonte de energia atingiu as 1.200, na energia hidroeléctrica 4.000, no carvão 6.400 e no nuclear 31 (exceptuando a catástrofe de Chernobil, cujo número de vítimas directas e indirectas não se conhece ao certo).
- As centrais a combustíveis fósseis e as refinarias de petróleo também têm efeitos nefastos na saúde pública e na qualidade de vida das populações.
Contras:
- Representa apenas 20 a 25% da oferta de energia em Portugal (produção de electricidade).
- Produz resíduos perigosos (que libertam calor e radiação durante milhares de anos), para os quais não existe ainda uma solução satisfatória.
- Apesar da segurança das centrais e dos novos reactores ter melhorado depois da catástrofe de Chernobil, as incógnitas ainda são grandes. Não se sabe, por exemplo, se o hidrogénio explodirá em caso de acidente grave num EPR (European Pressurized Reactor). Mas sabe-se que o mesmo não está preparado para resistir ao embate de um avião.
- Pode afectar a aposta no desenvolvimento de energias menos perigosas e mais limpas e abundantes.
- Pode esmorecer ou subalternizar a concretização dos inadiáveis planos de eficiência energética ou de utilização racional da energia.
- O risco sísmico é mal conhecido em Portugal.
- Implica uma reestruturação da rede eléctrica de transporte e uma interligação com Espanha.
- O actual governo espanhol anunciou, oportunamente, que o país vai abandonar progressivamente a energia nuclear a favor das renováveis.
- O enriquecimento do nosso urânio só seria possível fora do país.
- A localização perto de zonas habitadas será sempre impopular.
- Não será possível construir uma central a tempo de contribuir para as metas do Protocolo de Quioto relativas à emissão de CO2 (2012).
- Está em curso o desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento do CO2 nas centrais térmicas a combustíveis fósseis.
Incógnitas:
· Os custos de investimento incluem ou não os custos de desmantelamento no fim da vida; os custos de reestruturação da rede eléctrica; os custos de gestão e tratamento dos resíduos radioactivos; os custos dos sistemas de segurança; os custos de investigação e desenvolvimento; os custos do risco sísmico?
· Quem paga estas “externalidades”: a indústria, os consumidores ou o Estado?
· O preço da electricidade para o consumidor dependerá da inclusão ou não destas “externalidades”. Em todo o caso, em Portugal será sempre mais elevado do que nos países onde já decorreram vários anos de amortização dos investimentos.
Como se vê, não há só contras e incógnitas na opção nuclear. Há também prós. Parece-me, no entanto, que a primeira coisa que Portugal tem que fazer é apostar nessa “nova energia” que se chama eficiência energética, a qual, segundo os especialistas, pode levar à redução de cerca de 20% da energia utilizada no país.
* Baseado no livro “NUCLEAR-O debate sobre o novo modelo energético em Portugal”, de Jorge Nascimento Rodrigues e Virgílio Azevedo, Ed. Centro Atlântico – Nov2006.
1 “No seu funcionamento, as centrais nucleares não emitem praticamente CO2. Todavia, os processos de extracção e enriquecimento do urânio que lhes serve de combustível têm emissões de CO2 tanto maiores quanto menor for o teor do minério. Considerando os minérios de urânio actualmente explorados, as emissões associadas ao funcionamento da central nuclear podem representar cerca de 40% dos de uma central térmica de ciclo combinado. Este valor deve entender-se como indicativo, pois depende de um conjunto complexo de factores, como sejam a cadeia de tecnologias utilizadas e o teor do minério”. (Prof. Delgado Domingos, in NUCLEAR, de JNR e VA).
2 “O primeiro grande reactor experimental, o ITER (Internacional Thermonuclear Experimental Reactor), está a ser construído no Centro de Investigação de Energia Nuclear em Cadarache, no sul de França. É o maior projecto científico do mundo depois da Estação Espacial Internacional e custa dez mil milhões de euros, financiados por um consórcio onde participam a União Europeia (que suporta metade do investimento), os EUA, a Rússia, o Japão, a Coreia do Sul e a China. Prevê-se que a primeira central de fusão nuclear para exploração comercial comece a operar em 2045, depois de uma fase experimental de cinco anos de funcionamento de um reactor de primeira geração. Portugal está também envolvido no ITER, através do Centro de Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico, que tem realizado trabalhos de investigação e desenvolvimento e assumido funções de coordenação em áreas específicas do projecto” (NUCLEAR, de JNR e VA).