"O senhor conhece um homem quando sabe que ele não sabe o que diz."
"O Senhor Teste" (Paul Valéry)
O importante não é este saber de quem escuta o outro "desarrazoar" (mas pode-se, certamente, ser racional não sabendo o que se diz).
É antes, como diriam alguns linguistas, vê-lo a falar contra o código da língua ou da especialidade de que fala.
Porque um homem que sabe o que diz (e até que ponto pode sabê-lo?) é como um terminal da razão universal ou dum saber codificado. O que há de pessoal nisso está no corpo e na modulação do que diz. Mas o outro revela na sua impertinência, ou na sua confusão, um corpo "doutrinário" (Michaux dizia que, neste século, o falo se tornou doutrinário).
Claro que há uma enorme pretensão naquela frase, porque um homem que cai fora do senso, é capturado, na nossa época, pelo discurso da anormalidade psíquica.
Embora muitas vezes falemos do que não sabemos (é muito vulgar na conversação e no convívio), sabemos, quase sempre, o que dizemos.
O senhor Teste não está a pensar no psiquiatra, o qual de facto não conhece o seu homem, mas em alguém que apanhou o outro em falta. É esse, então, um "saber" moral?
Pode ser indecente, mas é muito revelador não se saber o que se diz. Ainda assim, não se deveria falar em conhecimento.
O senhor Teste diz ainda que não sabe o que é a consciência dos tolos ( e que a dos homens de espírito está cheia de tolices), sugerindo que apesar de não saber o que é, os conhece (aos tolos), visto que também eles não sabem o que dizem.
O que me leva a concluir que esse conhecimento talvez seja do tipo do conhecimento bíblico...
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